Morte de meninos será investigada /Reconstituição da operação
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05.12.2005
Trabalhador inocente. No cartaz improvisado, a mensagem da família de um jovem de 24 anos que, segundo os parentes, voltava para casa na hora em que policiais militares agiam no Morro do Estado, em Niterói, região metropolitana do Rio.
A operação, no sábado à noite, deixou quatro mortos. Três eram menores: tinham 16, 15 e 11 anos de idade. Outro adolescente ficou ferido e está no hospital.
O menor de todos era Wellington. Segundo uma testemunha, ele não resistiu aos três tiros que levou: dois nas pernas e o último na cabeça. A testemunha é um outro garoto de 11 anos. Ele conta que conseguiu se esconder e escapou com vida.
“Os policiais estavam pensando que eles eram bandidos. Só que eles eram apenas meus amigos. Aí o policial falou: ‘sai pra fora’. Aí falou: ‘não, por causa da bala perdida me acertar’. Aí o policial falou: ‘Ah é, né? Virou as costas pra mim, agora você não vai mais virar as costas mais pra ninguém.’”, disse o garoto.
Pedindo justiça, parentes dos mortos e moradores do Morro do Estado, fizeram um protesto pelas ruas do centro de Niterói, nesta segunda-feira à tarde.
Na frente do Fórum, rezaram.
Policiais do batalhão de choque acompanharam a manifestação. Na versão da PM, o que houve na favela foi uma troca de tiros. Drogas e armas, inclusive uma submetralhadora, estariam com o grupo.
Segundo informações da Polícia Militar, uma testemunha viu uma pessoa com uma pistola e um dos mortos tem passagem pela polícia.
“Nós quando incursionamos uma favela temos que ter as devidas cautelas, até porque nós estamos perdendo homens também. Se houve alguma precipitação, algum excesso, obviamente eles não ficaram na rua“, afirmou Hudson de Aguiar, comandante geral da PM.
Dois adolescentes foram sepultados hoje. A mãe de um dos menores não quer realizar o enterro antes que sejam feitos mais exames no corpo.
“Meu filho estudava, tinha família e eu vou mostrar que meu filho não era bandido da favela, existe muita criança que quer ser feliz”, disse ela.
A Secretaria de Segurança Pública do Rio determinou que o caso seja investigado pelo inspetor-geral de Polícia.
“Vamos investigar se tem caracterizações de feridas produzidas por projétil que possam mostrar indícios de extermínio”, informou João Carlos Ferreira, inspetor geral de polícia.
06.12.2005
Reconstituição da operação
De manhã, 12 policiais militares prestaram depoimento. Todos negaram as acusações de que teriam executado três menores e um jovem de 24 anos durante uma operação no último sábado no morro do estado, em Niterói.
Quatro deles foram convocados para participar de uma reconstituição na favela. Peritos criminalistas e o delegado responsável pelas investigações acompanharam as explicações de um sargento e três soldados.
Durante a reconstituição, os quatro policiais reafirmaram que reagiram ao ataque de bandidos. E que atiraram em legítima defesa. Mas para o inspetor geral de polícia do Rio há dúvidas nas versões apresentadas pelos PMs.
“Verificamos algumas incongruências, algumas contradições nos depoimentos, nas demonstrações dos policiais que efetivamente participaram, de sorte que ainda merece um aprofundamento para esclarecer esses pontos de incongruências que ficaram”, disse João Carlos Ferreira, inspetor geral da polícia.
Hoje, a polícia apresentou cartas que teriam sido apreendidas com traficantes de uma outra favela. Nelas, os bandidos afirmam que as vítimas tinham envolvimento com o tráfico.
De acordo com os investigadores, uma testemunha disse que três dos quatro mortos eram traficantes. Parentes da testemunha negam que ela tenha apresentado essa versão.
“Ele falou: "Conheço eles, que eles são meus colegas, brinco com eles na rua, a gente joga bola", só isso que ele falou, não falou nada. Perguntaram pelos outros meninos, ele falou que não conhecia, não conhece ninguém”, afirmou um parente.
A polícia, no entanto, confirma o conteúdo do depoimento.
“Ele afirma que chegou ali, viu três, um deles desarmados e mais dois armados. Eu vi um documento assinado por ele, do próprio punho, na presença do delegado titular da delegacia de homicídios”, afirmou o inspetor geral de polícia.
A Secretaria de Segurança do Rio determinou, na noite desta terça-feira, pouco a prisão administrativa dos 12 policiais militares que participaram da operação.

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