Baixada Relembra Chacina
Artigo retirado do site: http://www.cidadania.org.br/conteudo.asp?conteudo_id=5691
Sexta-feira, 07 de Abril de 2006 . Matéria
Baixada relembra chacina
31/3/2006 12:42:00
Fonte: Viva Favela
Por Renata Siqueira
Rio de Janeiro. Baixada Fluminense. Noite de quinta-feira, 31 de março de 2005. 29 mortos e uma testemunha. Vítimas escolhidas aleatoriamente. Os acusados são PMs. Informações que parecem fazer parte do roteiro de um filme de terror, mas que há um ano estamparam a capa de jornais do Brasil e do mundo. Famílias marcadas para sempre pela chacina nos municípios de Nova Iguaçu e Queimados e que até hoje lutam pelo cumprimento das promessas feitas pela prefeitura de Nova Iguaçu, governo do estado e federal.
Porém, a dor de perder maridos, irmãos e filhos não teve um efeito paralisante. Pelo contrário, logo depois da tragédia, os parentes das vítimas se uniram e criaram a Associação de Familiares e Amigos das Vítimas de Violência (AFAVIV). A iniciativa tomou proporções maiores que a esperada. Outras mães que passaram por situações semelhantes, como os incidentes da ViaShow e da Rio Sampa, também se juntaram ao grupo. O apoio mútuo e objetivos em comum foram alguns dos atrativos para a adesão de novos integrantes:
“No início, a nossa intenção era parar um pouco com a violência, já que são muitos os adolescentes que morrem por causa disso. Além do mais, a dor de perder um parente é muito forte”, conta Cátia Patrícia, 32 anos, presidente da AFAVIV. Ela fala com a autoridade de quem ficou sem o irmão, Márcio Joaquim Martins, 15 anos, e o primo Francisco José da Silva Neto, 34 anos.
Depois de um ano do atentado a associação ainda luta para que a ajuda oferecida pelo poder público seja cumprida: “As pessoas já estão cansadas de esperar o envio de cestas básicas regulares e também a criação de um monumento, que relembre a chacina. Várias mães estão passando necessidade, porque os pais de família foram mortos por funcionários do governo”, cobra Cátia. Ela ressalta ainda, que muitas crianças estão correndo o risco de ficar sem estudar porque as mensalidades escolares estão atrasadas.
Para evitar que situações como estas continuem e também avaliar quais propostas de auxílio saíram do papel, uma série de eventos foi preparada para marcar a passagem de um ano da chacina. As atividades começaram no dia 24 deste mês: “Esta programação tem por objetivo fazer um balanço do que foi prometido pelas autoridades e a partir daí ver quais medidas já foram realmente tomadas”, explica Sebastião Santos, coordenador de comunicação da ONG Viva Rio, participante das reuniões semanais do Fórum Reage Baixada.
No primeiro dia, houve um seminário sobre "Educação e Cultura de Paz", dentro do Fórum Mundial de Educação, em Nova Iguaçu. Nomes importantes participaram do debate como Rodolfo Noronha, integrante do Viva Rio; o ator Antônio Pitanga; Dom Luciano, bispo de Nova Iguaçu; Ismael Lopes, representante da prefeitura de Queimados; e Zé Cláudio, Pró-Reitor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e autor do livro Barões do Extermínio. No dia 26, o ato "Um Grito pela Paz", dividido em duas partes, cívica e religiosa, levou cerca de mil pessoas às ruas do município, apesar do temporal que caiu, após o início do evento. Depois do ato, uma caminhada foi feita até o SESC, onde aconteceu o encerramento do Fórum.
Em Nova Iguaçu, a próxima etapa é a entrega da carta intitulada “Grito pela Paz”(exposta na íntegra no final da reportagem). Ela foi escrita pelo Fórum Reage Baixada e por vários projetos, entidades, órgãos, Ongs e movimentos sociais.O documento será levado a autoridades federais, estaduais e municipais no próximo dia 31, em um debate realizado às 15h, na Casa da Cultura( Rua Getúlio Vargas 51, Centro). Também será apresentada a versão atualizada do dossiê “Impunidade na Baixada”.
Confirmaram presença, o Prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, o Prefeito de Queimados, Rogério do Salão, o Ministro de Direitos Humanos, Paulo de Tarso Vannuchi, e o diretor-executivo do Viva Rio, Rubem César Fernandes. Também foram convidados para o evento, o secretário estadual de segurança, Marcelo Itagiba, o Ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, o comandante da Polícia Militar da Baixada, além dos promotores do caso.
Nesta data, será realizada uma missa às 8h da manhã, na Igreja Sagrada Família(Rua Raimundo Brito de Oliveira, sem número, Posse). Depois haverá uma caminhada em direção a Rua Gama, seguindo até a Escola Municipal Emílio Garrastazu Médice, que receberá o nome de Douglas Brasil, um dos assassinados.
Já em Queimados, será exibido um documentário sobre a chacina, que foi produzido pelo Observatório de Favelas. A apresentação acontece, a partir das 19h, na Praça da Bíblia, no bairro Campo da Banha. Após a projeção, haverá uma missa em memória das vítimas.
Os atos poderiam estar fazendo menção a 30 óbitos, mas uma vida conseguiu se manter ilesa no acontecimento de março do ano passado. Uma testemunha, que está sob proteção, disse que um gol prata chegou, por volta das 20h53, no Lava-Jato Luisinho, em Queimados. Quando ouviu os disparos se escondeu, mas conseguiu ver os assassinos saírem do local. Os tiros não tinham um alvo pré-definido, atingiram trabalhadores, crianças, cidadãos comuns. Mas a ação não parou por aí. No mesmo dia, em um bar na Rua Gama, Nova Iguaçu, outros inocentes foram exterminados. Crimes que tiveram as mesmas características.
A princípio, 11 policiais estariam envolvidos. A juíza Elizabeth Machado Louro, da 4ª Vara Criminal de Nova Iguaçu, incriminou cinco PMs por 29 homicídios qualificados - motivo torpe e recurso que impossibilitou a defesa das vítimas. José Augusto Moreira Felipe, Fabiano Gonçalves Lopes, Carlos Jorge Carvalho, Marcos Siqueira Costa e Júlio César Amaral de Paula ainda serão julgados por tentativa de homicídio e formação de quadrilha. Eles irão a júri popular em abril. Outros dois acusados responderão por formação de quadrilha: Gilmar da Silva Simão e Ivonei de Souza. Quatro deles não serão julgados por falta de provas.
Os nomes dos envolvidos foram mencionados em várias denúncias anônimas, ainda no início da investigação. Segundo informações, depois de cometerem os crimes, eles se reuniram em um bar. Pessoas que estavam no local chegaram a ouvir Júlio César confessar o que tinham feito.
A polícia trabalha com duas linhas de investigação. Uma que policiais integrariam grupos de extermínio da Baixada e por isso escolheram suas vítimas aleatoriamente. O intuito era causar terror, medo e pânico. A outra possibilidade era a insatisfação com a "Operação Navalha na Carne", que investigava PMs envolvidos com o assassinato de dois homens, alguns dias antes da chacina. A corporação queria demonstrar sua insatisfação com a mudança do coronel do 15º Batalhão de Duque de Caxias.
CARTA ABERTA: GRITO PELA PAZ
O Brasil e o Mundo se chocaram com a brutalidade da CHACINA DA BAIXADA, ocorrida nos municípios de Queimados e Nova Iguaçu, na noite de 31 de março de 2005, quando um grupo de extermínio formado por policiais militares da ativa tirou a vida de 29 (vinte e nove) inocentes: crianças, jovens estudantes e trabalhadores, que nada deviam, que nada haviam feito contra ninguém, que apenas estavam, por acaso, nos locais da investida assassina.
Vozes de indignação e de solidariedade surgiram de todos os cantos. Entidades não-governamentais, associações, igrejas e a população repudiaram o ato bárbaro, dando origem a um dossiê intitulado “Impunidade na Baixada Fluminense”, ao Fórum REAGE BAIXADA, que, hoje congrega dezenas de entidades, e à AFAVIV – Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas de Violência na Baixada Fluminense.
As autoridades federais e estaduais agiram, nesse episódio, com rapidez e eficiência, e indiciaram 11 (onze) supostos assassinos. O Ministério Público reuniu provas e apresentou denúncia contra eles. A justiça inocentou, preliminarmente, 4 (quatro) deles e levará os outros 7 (sete) a júri popular, ainda neste semestre.
O governo do Estado e as Prefeituras locais, esparsa e lentamente, tomaram algumas providências “reparadoras” como a concessão de pensões (em fase de implantação), o fornecimento (irregular) de cestas básicas para os familiares das vítimas e o apoio material para alguns eventos de solidariedade, de reivindicação ou de protesto.
No entanto, das reivindicações essenciais para contenção da violência e manutenção da segurança dos cidadãos, apresentadas pela AFAVIV e pelo Reage Baixada, no Dossiê da Impunidade, nenhuma delas foi atendida pelo Poder Público.
Não bastam os paliativos para aliviar o sofrimento dos familiares das vítimas, queremos medidas estruturais e de profundidade que garantam a segurança dos cidadãos e evitem novas vítimas.
Queremos que os governos de todas as esferas apresentem e discutam conosco uma AGENDA SOCIAL, com políticas públicas que possam reduzir as desigualdades que alimentam a violência; que apontem para a superação das condições desumanas de vida a que está submetida grande parte da população da Baixada; que possibilitem a geração de emprego e renda para que todos possam viver dignamente do suor do seu rosto; que garantam a inclusão de todos os jovens no processo educacional e de qualificação profissional e o acesso permanente a atividades culturais e de lazer; e que implante nas escolas, de todos os graus, uma educação mais cidadã, fundamentada nos princípios da solidariedade, da fraternidade e do respeito à vida.
Estamos convencidos de que ‘chacina começa na propina’. A ação criminosa, regular e contínua, de policiais assassinos em nossa região, ceifando centenas de vidas, tem origem na corrupção rotineira, na degradação moral por que passa a Instituição Policial. A corrupção é a mãe da violência. Queremos combate efetivo, diuturno e rigoroso à corrupção, nos quartéis e nos gabinetes que os dirigem e nos parlamentos que os regulam, como também investigação regular e sistemática dos sinais de enriquecimento ilícito.
Queremos ações contundentes das autoridades na punição dos assassinos de farda. Não podemos admitir que agentes da segurança pública, pagos com dinheiro do cidadão, tirem a vida de pessoas a quem deveriam dar proteção. Queremos a expulsão imediata desses assassinos dos quadros da PM e, a curto prazo, em processo sumário, de toda a banda podre da Polícia.
Queremos não os espetáculos cinematográficos para recuperação de armas roubadas do exército, mas medidas efetivas de combate inteligente e contínuo à criminalidade, que libertem nossos filhos, hoje acuados e aterrorizados dentro de casa, diante da ameaça constante da ação assassina tanto dos bandidos quanto de políciais.
Queremos uma reforma profunda na Polícia, com reformulação dos métodos de treinamento, dos cursos de formação e dos procedimentos de seleção de pessoal, a começar pela realização imediata de reciclagem dos policiais da ativa, com prioridade para os Batalhões da Baixada Fluminense, com vistas à civilização e humanização da tropa, para que tenhamos uma polícia verdadeiramente cidadã.
Se a corrupção é a mãe, a impunidade é a madrinha da violência. Queremos punição exemplar para os responsáveis por este e por todo e qualquer crime contra a vida. Conclamamos a todos os cidadãos e cidadãs a comparecerem no Fórum de Nova Iguaçu no dia do julgamento dos policiais assassinos, para exigir que a Justiça seja feita.
Mesmo depois de toda a repercussão da Chacina da Baixada, dezenas de outros inocentes foram mortos em nossa Região por assassinos fardados. Qualquer de nós poderá ser a próxima vítima ou o próximo a chorar seus mortos...
Por tudo isso estamos aqui, hoje, lançando, sob olhares do mundo inteiro, o nosso Grito pela Paz.
Basta de Impunidade, queremos Justiça! Basta de Corrupção, queremos decência no exercício do Poder Público! Basta de violência, queremos PAZ!
FÓRUM REAGE BAIXADA – DIOCESE DE NOVA IGUAÇU / CDH - AFAVIV – SOS QUEIMADOS – VIVA RIO – LPP – Uerj, ABM / S. J. Meriti – FEMAB – B. Roxo - ESCOLA DE GOVERNO / N. Iguaçu - CIRCO BAIXADA / Queimados – TRIÂNGULO ROSA
Assembléia Geral do REAGE BAIXADA - dia 6 de maio, às 9 horas, no Centro de Direitos Humanos – N. Iguaçu (atrás do Cemitério)
Sexta-feira, 07 de Abril de 2006 . Matéria
Baixada relembra chacina
31/3/2006 12:42:00
Fonte: Viva Favela
Por Renata Siqueira
Rio de Janeiro. Baixada Fluminense. Noite de quinta-feira, 31 de março de 2005. 29 mortos e uma testemunha. Vítimas escolhidas aleatoriamente. Os acusados são PMs. Informações que parecem fazer parte do roteiro de um filme de terror, mas que há um ano estamparam a capa de jornais do Brasil e do mundo. Famílias marcadas para sempre pela chacina nos municípios de Nova Iguaçu e Queimados e que até hoje lutam pelo cumprimento das promessas feitas pela prefeitura de Nova Iguaçu, governo do estado e federal.
Porém, a dor de perder maridos, irmãos e filhos não teve um efeito paralisante. Pelo contrário, logo depois da tragédia, os parentes das vítimas se uniram e criaram a Associação de Familiares e Amigos das Vítimas de Violência (AFAVIV). A iniciativa tomou proporções maiores que a esperada. Outras mães que passaram por situações semelhantes, como os incidentes da ViaShow e da Rio Sampa, também se juntaram ao grupo. O apoio mútuo e objetivos em comum foram alguns dos atrativos para a adesão de novos integrantes:
“No início, a nossa intenção era parar um pouco com a violência, já que são muitos os adolescentes que morrem por causa disso. Além do mais, a dor de perder um parente é muito forte”, conta Cátia Patrícia, 32 anos, presidente da AFAVIV. Ela fala com a autoridade de quem ficou sem o irmão, Márcio Joaquim Martins, 15 anos, e o primo Francisco José da Silva Neto, 34 anos.
Depois de um ano do atentado a associação ainda luta para que a ajuda oferecida pelo poder público seja cumprida: “As pessoas já estão cansadas de esperar o envio de cestas básicas regulares e também a criação de um monumento, que relembre a chacina. Várias mães estão passando necessidade, porque os pais de família foram mortos por funcionários do governo”, cobra Cátia. Ela ressalta ainda, que muitas crianças estão correndo o risco de ficar sem estudar porque as mensalidades escolares estão atrasadas.
Para evitar que situações como estas continuem e também avaliar quais propostas de auxílio saíram do papel, uma série de eventos foi preparada para marcar a passagem de um ano da chacina. As atividades começaram no dia 24 deste mês: “Esta programação tem por objetivo fazer um balanço do que foi prometido pelas autoridades e a partir daí ver quais medidas já foram realmente tomadas”, explica Sebastião Santos, coordenador de comunicação da ONG Viva Rio, participante das reuniões semanais do Fórum Reage Baixada.
No primeiro dia, houve um seminário sobre "Educação e Cultura de Paz", dentro do Fórum Mundial de Educação, em Nova Iguaçu. Nomes importantes participaram do debate como Rodolfo Noronha, integrante do Viva Rio; o ator Antônio Pitanga; Dom Luciano, bispo de Nova Iguaçu; Ismael Lopes, representante da prefeitura de Queimados; e Zé Cláudio, Pró-Reitor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e autor do livro Barões do Extermínio. No dia 26, o ato "Um Grito pela Paz", dividido em duas partes, cívica e religiosa, levou cerca de mil pessoas às ruas do município, apesar do temporal que caiu, após o início do evento. Depois do ato, uma caminhada foi feita até o SESC, onde aconteceu o encerramento do Fórum.
Em Nova Iguaçu, a próxima etapa é a entrega da carta intitulada “Grito pela Paz”(exposta na íntegra no final da reportagem). Ela foi escrita pelo Fórum Reage Baixada e por vários projetos, entidades, órgãos, Ongs e movimentos sociais.O documento será levado a autoridades federais, estaduais e municipais no próximo dia 31, em um debate realizado às 15h, na Casa da Cultura( Rua Getúlio Vargas 51, Centro). Também será apresentada a versão atualizada do dossiê “Impunidade na Baixada”.
Confirmaram presença, o Prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, o Prefeito de Queimados, Rogério do Salão, o Ministro de Direitos Humanos, Paulo de Tarso Vannuchi, e o diretor-executivo do Viva Rio, Rubem César Fernandes. Também foram convidados para o evento, o secretário estadual de segurança, Marcelo Itagiba, o Ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, o comandante da Polícia Militar da Baixada, além dos promotores do caso.
Nesta data, será realizada uma missa às 8h da manhã, na Igreja Sagrada Família(Rua Raimundo Brito de Oliveira, sem número, Posse). Depois haverá uma caminhada em direção a Rua Gama, seguindo até a Escola Municipal Emílio Garrastazu Médice, que receberá o nome de Douglas Brasil, um dos assassinados.
Já em Queimados, será exibido um documentário sobre a chacina, que foi produzido pelo Observatório de Favelas. A apresentação acontece, a partir das 19h, na Praça da Bíblia, no bairro Campo da Banha. Após a projeção, haverá uma missa em memória das vítimas.
Os atos poderiam estar fazendo menção a 30 óbitos, mas uma vida conseguiu se manter ilesa no acontecimento de março do ano passado. Uma testemunha, que está sob proteção, disse que um gol prata chegou, por volta das 20h53, no Lava-Jato Luisinho, em Queimados. Quando ouviu os disparos se escondeu, mas conseguiu ver os assassinos saírem do local. Os tiros não tinham um alvo pré-definido, atingiram trabalhadores, crianças, cidadãos comuns. Mas a ação não parou por aí. No mesmo dia, em um bar na Rua Gama, Nova Iguaçu, outros inocentes foram exterminados. Crimes que tiveram as mesmas características.
A princípio, 11 policiais estariam envolvidos. A juíza Elizabeth Machado Louro, da 4ª Vara Criminal de Nova Iguaçu, incriminou cinco PMs por 29 homicídios qualificados - motivo torpe e recurso que impossibilitou a defesa das vítimas. José Augusto Moreira Felipe, Fabiano Gonçalves Lopes, Carlos Jorge Carvalho, Marcos Siqueira Costa e Júlio César Amaral de Paula ainda serão julgados por tentativa de homicídio e formação de quadrilha. Eles irão a júri popular em abril. Outros dois acusados responderão por formação de quadrilha: Gilmar da Silva Simão e Ivonei de Souza. Quatro deles não serão julgados por falta de provas.
Os nomes dos envolvidos foram mencionados em várias denúncias anônimas, ainda no início da investigação. Segundo informações, depois de cometerem os crimes, eles se reuniram em um bar. Pessoas que estavam no local chegaram a ouvir Júlio César confessar o que tinham feito.
A polícia trabalha com duas linhas de investigação. Uma que policiais integrariam grupos de extermínio da Baixada e por isso escolheram suas vítimas aleatoriamente. O intuito era causar terror, medo e pânico. A outra possibilidade era a insatisfação com a "Operação Navalha na Carne", que investigava PMs envolvidos com o assassinato de dois homens, alguns dias antes da chacina. A corporação queria demonstrar sua insatisfação com a mudança do coronel do 15º Batalhão de Duque de Caxias.
CARTA ABERTA: GRITO PELA PAZ
O Brasil e o Mundo se chocaram com a brutalidade da CHACINA DA BAIXADA, ocorrida nos municípios de Queimados e Nova Iguaçu, na noite de 31 de março de 2005, quando um grupo de extermínio formado por policiais militares da ativa tirou a vida de 29 (vinte e nove) inocentes: crianças, jovens estudantes e trabalhadores, que nada deviam, que nada haviam feito contra ninguém, que apenas estavam, por acaso, nos locais da investida assassina.
Vozes de indignação e de solidariedade surgiram de todos os cantos. Entidades não-governamentais, associações, igrejas e a população repudiaram o ato bárbaro, dando origem a um dossiê intitulado “Impunidade na Baixada Fluminense”, ao Fórum REAGE BAIXADA, que, hoje congrega dezenas de entidades, e à AFAVIV – Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas de Violência na Baixada Fluminense.
As autoridades federais e estaduais agiram, nesse episódio, com rapidez e eficiência, e indiciaram 11 (onze) supostos assassinos. O Ministério Público reuniu provas e apresentou denúncia contra eles. A justiça inocentou, preliminarmente, 4 (quatro) deles e levará os outros 7 (sete) a júri popular, ainda neste semestre.
O governo do Estado e as Prefeituras locais, esparsa e lentamente, tomaram algumas providências “reparadoras” como a concessão de pensões (em fase de implantação), o fornecimento (irregular) de cestas básicas para os familiares das vítimas e o apoio material para alguns eventos de solidariedade, de reivindicação ou de protesto.
No entanto, das reivindicações essenciais para contenção da violência e manutenção da segurança dos cidadãos, apresentadas pela AFAVIV e pelo Reage Baixada, no Dossiê da Impunidade, nenhuma delas foi atendida pelo Poder Público.
Não bastam os paliativos para aliviar o sofrimento dos familiares das vítimas, queremos medidas estruturais e de profundidade que garantam a segurança dos cidadãos e evitem novas vítimas.
Queremos que os governos de todas as esferas apresentem e discutam conosco uma AGENDA SOCIAL, com políticas públicas que possam reduzir as desigualdades que alimentam a violência; que apontem para a superação das condições desumanas de vida a que está submetida grande parte da população da Baixada; que possibilitem a geração de emprego e renda para que todos possam viver dignamente do suor do seu rosto; que garantam a inclusão de todos os jovens no processo educacional e de qualificação profissional e o acesso permanente a atividades culturais e de lazer; e que implante nas escolas, de todos os graus, uma educação mais cidadã, fundamentada nos princípios da solidariedade, da fraternidade e do respeito à vida.
Estamos convencidos de que ‘chacina começa na propina’. A ação criminosa, regular e contínua, de policiais assassinos em nossa região, ceifando centenas de vidas, tem origem na corrupção rotineira, na degradação moral por que passa a Instituição Policial. A corrupção é a mãe da violência. Queremos combate efetivo, diuturno e rigoroso à corrupção, nos quartéis e nos gabinetes que os dirigem e nos parlamentos que os regulam, como também investigação regular e sistemática dos sinais de enriquecimento ilícito.
Queremos ações contundentes das autoridades na punição dos assassinos de farda. Não podemos admitir que agentes da segurança pública, pagos com dinheiro do cidadão, tirem a vida de pessoas a quem deveriam dar proteção. Queremos a expulsão imediata desses assassinos dos quadros da PM e, a curto prazo, em processo sumário, de toda a banda podre da Polícia.
Queremos não os espetáculos cinematográficos para recuperação de armas roubadas do exército, mas medidas efetivas de combate inteligente e contínuo à criminalidade, que libertem nossos filhos, hoje acuados e aterrorizados dentro de casa, diante da ameaça constante da ação assassina tanto dos bandidos quanto de políciais.
Queremos uma reforma profunda na Polícia, com reformulação dos métodos de treinamento, dos cursos de formação e dos procedimentos de seleção de pessoal, a começar pela realização imediata de reciclagem dos policiais da ativa, com prioridade para os Batalhões da Baixada Fluminense, com vistas à civilização e humanização da tropa, para que tenhamos uma polícia verdadeiramente cidadã.
Se a corrupção é a mãe, a impunidade é a madrinha da violência. Queremos punição exemplar para os responsáveis por este e por todo e qualquer crime contra a vida. Conclamamos a todos os cidadãos e cidadãs a comparecerem no Fórum de Nova Iguaçu no dia do julgamento dos policiais assassinos, para exigir que a Justiça seja feita.
Mesmo depois de toda a repercussão da Chacina da Baixada, dezenas de outros inocentes foram mortos em nossa Região por assassinos fardados. Qualquer de nós poderá ser a próxima vítima ou o próximo a chorar seus mortos...
Por tudo isso estamos aqui, hoje, lançando, sob olhares do mundo inteiro, o nosso Grito pela Paz.
Basta de Impunidade, queremos Justiça! Basta de Corrupção, queremos decência no exercício do Poder Público! Basta de violência, queremos PAZ!
FÓRUM REAGE BAIXADA – DIOCESE DE NOVA IGUAÇU / CDH - AFAVIV – SOS QUEIMADOS – VIVA RIO – LPP – Uerj, ABM / S. J. Meriti – FEMAB – B. Roxo - ESCOLA DE GOVERNO / N. Iguaçu - CIRCO BAIXADA / Queimados – TRIÂNGULO ROSA
Assembléia Geral do REAGE BAIXADA - dia 6 de maio, às 9 horas, no Centro de Direitos Humanos – N. Iguaçu (atrás do Cemitério)

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