Sunday, March 11, 2007

JUSTIÇA ? VERGONHA?

Finalmente vemos um dos maiores ladrões do país sendo julgado e condenado.

Finalmente Paulo Maluf condenado.

Infelizmente não foi pela Justiça? Brasileira.

A impunidade assegurada, não sei como (será que não sei?), aqui no Brasil, leva os brasileiros corruptos a ficarem tão confiantes que saem pelo mundo fazendo o que querem.

Acostumados com a Justiça? Brasileira acham que podem fazer o que querem.

Porém em alguns países a Justiça é eficiente e ajuda a nação a seguir um rumo mais digno, ajudando a construir uma sociedade com princípios morais edificantes para a evolução social humana.

Vemos então, graças a Justiça Americana, Paulo Maluf ser condenado por remessa ilegal de dólares, dinheiro advindo do roubo de dinheiro de obras públicas, neste caso, mancomunado com a empresa Mendes Junior.

Eu pergunto a vocês.

Como o Brasil pode aspirar a ser um grande país se nós não temos Justiça?

Paulo Maluf estava preso pela polícia e o Supremo Tribunal Federal o soltou porque ficou com pena dele.

O pior é que os juízes que o soltou são hoje presidentes dos mais altos tribunais do país.

O país clama por Justiça.

Da violência das ruas.

Da corrupção desenfreada.

E a justiça, nada.

Pobre país este.

Vejamos a matéria do jornalista WÁLTER NUNES.

No final tem o link para o artigo.


O ex-prefeito Paulo Maluf passou 41 dias preso na carceragem da Polícia Federal, em São Paulo, ao lado do filho Flávio
Nos 41 dias que passaram na prisão, o ex-prefeito Paulo Maluf e seu filho Flávio tiveram diversos pedidos de habeas corpus negados por diversas instâncias da Justiça. Na quinta-feira 20, o Supremo Tribunal Federal (STF) contrariou uma das regras internas que orientam suas decisões e, abrindo uma exceção, concedeu liminar que tirou pai e filho da cadeia. De acordo com uma súmula do Tribunal, os ministros não podem examinar processos que ainda não tiveram o mérito apreciado nas instâncias inferiores e cujos pedidos de liminar foram negados antes - exatamente o caso dos Malufs. Os dois furaram a fila da Justiça.

Apesar das leis internas, os ministros Carlos Velloso, Nelson Jobim, Marco Aurélio de Mello, Sepúlveda Pertence e Ellen Gracie Northfleet concederam o benefício da liberdade, primeiro a Flávio e depois a seu pai. Velloso, relator do processo, disse que se sensibilizou pela situação de Maluf. 'Realmente imagino o sofrimento de um pai preso na mesma cela que o filho.' A decisão não caiu bem nem dentro da própria corte.

Três ministros - Eros Grau, Joaquim Barbosa e Carlos Ayres Britto - nem analisaram o mérito da causa por considerar que o próprio julgamento seria um privilégio concedido aos réus.



De barba branca e aparentando debilidade, Maluf deixou a cadeia e foi direto para o hospital fazer exames de saúde
Paulo Maluf e o filho Flávio foram presos em 10 de setembro por terem sido flagrados em escutas telefônicas tentando coagir o doleiro Vivaldo Alves, o Birigüi. Ele estava escalado pela Polícia Federal para prestar esclarecimentos no caso em que Maluf é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro. Birigüi teria movimentado US$ 161 milhões de Maluf no exterior. O ex-prefeito da cidade de São Paulo é acusado de ter desviado recursos da construção de obras viárias para suas contas no exterior. Com um caminhão de documentos enviados pela Justiça dos Estados Unidos e da Suíça, o Ministério Público já conseguiu obter o bloqueio de US$200 milhões de Maluf depositados nas Ilhas Jersey e rastreou outras contas milionárias do ex-prefeito em Luxemburgo, França, Inglaterra e Suíça. Durante o tempo em que ficou preso, Maluf chorou, reclamou da comida da cadeia, foi ao hospital por problemas no coração e dores no estômago, e foi considerado 'bom colega' por outros detentos. Deixou a eles todos os pertences que usava na cadeia, como roupas e livros.

http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT1057912-1659,00.html


Nota do Fred

Alguns dias depois o "debilitado" Paulo Maluf desfilava em Campos do Jordão - SP bem disposto rindo de nós imbecis brasileiros que não fazemos nada por nós mesmos.

Comia dois pastéis de aparentemente 400g cada um.

Realmente só com pastéis deste tamanho podemos curar sérios problemas de estômago!

Wednesday, February 28, 2007

Como?

Alguns comentam a precariedade do comportamento humano.

O comportamento humano se afigura precário no ódio, na inveja, na falta do instinto coletivo, ou seja, na falta de solidariedade, na busca de prazeres extremos e situações de prazer associados à superioridade intelectual ou física (jogos) ou financeira,etc.

Porquê precário?

Precário porque causam mais problemas que prazeres.

Como poderíamos configurar uma sociedade feliz?

Falta de fome, saúde boa, comportamento interelacional afável, comportamento solidário, sem medos, etc.

Qual o tipo de vizinho que você tem?

Um indivíduo que possui no terreno dele uma enorme árvore que enche seu jardim de folhas?

Uma pessoa que tem um filho insuportável que risca o carro dos outros, briga com todos?

Que escuta a música extremamente alta e você não pode estudar?

Que tranca seu carro colocando o dele bem atrás do seu?

Que é incapaz de esperar você no elevador quando você está a apenas 10 passos da porta?

Se imagine com estes vizinhos.

A primeira conclusão seria de que você está mal de vizinhos.

Mas qual o problema dessas pessoas?

Falta de solidariedade, falta do senso de comunidade, falta de respeito ás necessidades e bem estar dos outros.

Normalmente dizemos que são pessoas mal educadas.

E pensamos em educação neste caso como educação social, que o homem pretendeu resolver por intermédio de regras de comportamento ensinadas em casa ou na escola e mesmo por intermédio de leis uma vez que nem todo tem a mesma educação ou possibilidade de acesso a ela e aí tem que ter alguém para impor pela força o bem estar de todos.

Bem, então voltando ao primeiro parágrafo vamos lembrar do que estamos falando...
....precariedade do comportamento humano.

Imaginemos um ser humano que nasce e cresce sem escola, num ambiente ruim com falta de alimentação, com doenças, abandonado pelo pai, vendo a mãe se exasperar pela falta de capacidade de prover o sustento, a saúde e a própria integridade da família?

Qual o comportamento que você pode esperar dele?

Ele come com colher, segura a carne com a mão, a trinca nos dentes e puxa, para cortá-la, não lava as mãos, não se incomoda de andar sujo, e sua linguagem não é das melhores.

Qual o problema aí?

O meio em que ele se encontra, as condições de vida colocada ao alcance dele.

Agora imagine esse ser vendo televisão.

Garotos bonitos, com dinheiro, tomando café da manhã com brioche, croissant, laranjada bolo, geléia, queijo, saindo para a faculdade com um big carro, vestido com as melhores roupas, se encontrando na faculdade com lindas garotas, indo se preparar para receber na sala de aula os melhores ensinamentos para ter uma vida boa e abastada.

É um ser humano, sujeito ao ciúme, inveja, necessidade de dar e receber afeto.

Nós, em nossa vida, instintivamente, nos situamos na sociedade.

Damos uma olhada em volta e vemos as pessoas que estão por aí.

Na rua, na televisão, no cinema, e fazemos uma análise comparativa nossa em relação à sociedade.

E tomamos alguma atitude, como resolver estudar mais para se tornar mais apto e ter um emprego melhor, ou determinar que vai se esforçar para ter seu próprio negócio para melhorar de vida etc...

Ou não fazer nada. Você acha que a sua vida ta boa, de bom tamanho.

Mas a atual sociedade tem estímulos fortíssimos para você não ficar parado.

A propaganda.

Ela visa gerar em você o desejo.

Desejo de um tênis Nike, aquele do Ronaldinho, a sandália, aquela da Ivete, a da Graziela, a da Sandi a da Xuxa, as roupas que fazem você ser desejada pelo Gianekine, o carro que te proporciona incríveis aventuras como chegar nas alturas de uma montanha que não está nem no Brasil,etc.

A propaganda vai levando a você o desejo, o desejo que você sabe que muitas vezes é apenas virtual que na realidade não vai acontecer, porque você pode até comprar o carro mais não vai ter dinheiro para sair com ele nas férias para aquela montanha, aqui mesmo no Brasil.

Você vai ter que ficar restrito ao prazer de fazer inveja aos outros.

Eu tenho você não tem.

As indústrias precisam gerar em você o desejo de consumir.

Você é o alvo. Você é O CONSUMIDOR.

Para que elas possam continuar sobrevivendo.

Então nós seres, estamos num mundo complexo, um mundo que muitos não percebem que estão.

É. É verdade.

Hoje eu tenho esta visão ampla da nossa sociedade, mas não foi sempre assim.

Quando mais novo, eu apenas via um produto e queria comprá-lo, porquê eu achava que seria mais feliz com ele.

Eu não fazia todas as análises.

Eu sofria a influência do grupo de seres que eu freqüentava.

Comprar a sandália da Grazi, o carro esportivo, a roupa tal.

E a maioria das pessoas que são jovens agem assim.

E o sistema atua nas pessoas da forma certa, para que ele possa continuar sobrevivendo.

Qual sistema? O atual em que vivemos.

Trabalhar, trabalhar, trabalhar, consumir, consumir, consumir, consumir......

O famoso American way of Life – Amway.

E aquele ser jovem aí de cima, aquele que não tem comida ou roupa ou saúde num nível mínimo de bem estar?

Como você acha que ele se comporta?

Ele também faz as suas análises, dentro das condições que ele tem para fazê-lo.

Ele, como eu, quando era jovem, não está também tão preocupado em fazer muita análise.

A propaganda bate em cheio.

Vida boa, carro, roupa bonita, mulheres e homens bonitos.

Ele também quer.

Claro.

Ele e você são do mesmo barro.

A espécie é a mesma.

Mesmo número de cromossomos e outros indicadores que especificam direitinho a espécie que classificamos de humanos, cuja principal característica é se autoproclamar racional.

As demais espécies da natureza são classificadas de irracionais.

Bem vamos ao dicionário.

Humanos – ser que tem a capacidade de ser afável, ser clemente, ser bom, ter solidariedade....

Racional – que raciocina. Que faz uso da razão.

Razão – Faculdade do espírito que o homem reflete, compara, conhece, julga. Bom senso, prudência.

Qual é a saída deste jovem?

Procurar emprego, trabalhar, para consumir.

Sem instrução?

Sem roupa?

Sem compostura?

Sujo?

Estamos acostumados a dizer:

“A honestidade independe da pobreza”

E eu digo para você:

Na atual sociedade em que vivemos, é mais fácil o pobre ser honesto, que o rico.

Porque uma grande parte da sociedade é rica por ser desonesta.

“É pobre, vai trabalhar”

E eu pergunto, como?

“Vai trabalhar vagabundo!”

“Quem tem que cuidar deles é o Estado”

“Roubou, matou, cadeia neles”

Para os pobres não para os ricos digo eu. Veja Maluf, veja Lalau etc.

E para quem tem esta filosofia eu fico pensando se são humanos ou racionais.

E não sei porquê me lembro dos judeus.

Explorados, perseguidos, mortos, dispersados á força pelos quatro cantos do mundo, dizimados, exterminados, estão juntos de novo, fortes.

Para os que já querem me julgar digo também que os judeus dizimaram, praticaram genocídio, exterminaram outros povos.

Não é novidade, ta no Torah, na Bíblia, nos livros de história e nos jornais.

Mas porque eu me lembro deles?

Lembro-me dos judeus dentro do conceito de racionalizar.

“Faculdade do espírito que o homem reflete, compara, conhece, julga.”

Porque um povo que sofreu e cometeu tantas atrocidades está em pé, sobrevivendo com força?

Tantos povos foram exterminados.

Porque não os judeus?

Por uma de suas qualidades: ser solidário com seu próximo.

Um judeu ajuda seu próximo.

Eles se ajudam entre si.

Não tenho competência para dizer porque eles fazem isto.

Por instinto de sobrevivência, por racionalidade?

Não conheço o âmago da sociedade judaica. Não posso saber.

Mas, posso constatar.

Visualizando o Rio de Janeiro de cima nos maravilhamos.

Que paisagem, que mar, que montanhas.

Olhando mais de perto vemos prédios belíssimos a beira mar e perto das areias lindas.

A medida que vamos nos afastando das praias belas, residências mais modestas, subindo os morros, os casebres.

Visualizando este contexto retorno para o alto e vemos todo o contexto.

A paisagem continua linda, mas a miséria humana salta os olhos.

Quanta gente tão pobre e miserável para tão poucas ricas.

E vejo os ricos sitiados.

De um lado o mar, do outro a pobreza quase total.

Vejo então os ricos se sentindo ameaçados, sendo invadidos nas ruas de seus bairros pelos pobres desesperados, roubando, matando.

Alucinados pelas drogas e pela sociedade virtual.

A da propaganda, a sociedade que precisa desesperadamente do desejo de consumir para continuar latente, com vida.

E os privilegiados por esta sociedade, que se intitulam de alta sociedade, ou topo da pirâmide social, cada vez mais apavorados.

Sem saber o que fazer.

De um lado o Estado corrupto.

Do outro os miseráveis.

E racionalmente vejo.

A coisa cada dia fica pior.

E a sociedade como barata tonta. Não sabe o que fazer.

O que você acha que tem que ser feito?

Bem a moda é construir um muro.

Como os USA estão fazendo na fronteira do México, para impedir que os pobres compartilhem sua riqueza.

Como os judeus estão fazendo na Palestina.

Os ricos do Rio de Janeiro poderiam fazer um muro em sua volta, fechar os túneis e instalar barreiras de fiscalização.

Bem, mas os muros tem uma tendência danada a serem derrubados ou virar atração turística à medida que o ser humano vai evoluindo.

Muro de Berlim, muralha da China....

-“Você ta dizendo que os USA e os judeus são involuídos?”

Eu não.

Você é que ta supondo.

O que eu digo é que estão no caminho errado.

O que eu digo é que se alguma coisa ta mal é porque tem alguma coisa errada.

E precisamos consertá-la.

Como?

SOLIDARIEDADE.

Vamos aprender com o que a natureza nos dá.

O comportamento do povo judeu.

E vamos torcer para que os judeus expandam seu comportamento entre si para com os outros povos, da mesma forma que Jesus tentou fazer com a religião deles, que os americanos o façam entre si e os outros povos, e os ricos cariocas e brasileiros façam com nosso povo, porque somos todos irmãos, quando pouco, de espécie.

Tuesday, December 19, 2006

Rio - O Estado na Contravenção

Faz 1 ano quase eu resolvi dar um grito contra o descalabro que acontece no Rio.

1 ano depois e continuamos vendo - pelo menos isso graças a Deus - o que acontece no Rio.

A polícia corrupta e criminosa.

Autoridades servindo ao crime.

Bandidos infiltrados no Executivo no Legislativo e no Judiciário.

Saí do Rio porque percebi que lá estava "tudo dominado".

Da diretora da Escola Estadual ou Municipal (últimos templos da honestidade)ao Governador.

Naturalmente os indivíduos ligados ao crime querem se apoderar dos poderes legais - Legislativo - Executivo - Judiciário.

E no Rio o conseguiram.

Eu sinto que o Rio é uma grande contravenção.

O próprio povo faz parte do esquema.

Se acostumou.

Se o povo não tem competência para combatê-lo ou não vê lucro em resolver a situação junta-se ao crime.

São duras estas palavras - mas é o que eu sinto.

Existem pessoas honestas - boas?

Existe.

A maioria - mas não conseguem resolver o problema.

Talvez efeito devastador da repressão popular de 20 anos de ditadura - onde o povo se acostumou a não participar - acostumou ser espoliado e ficar calado.

Mas tudo acaba e tudo volta.

Espero que se comece a fase do tudo acaba.

http://jornalnacional.globo.com/Jornalismo/JN/0,,AA1390429-3586-604101,00.html

Thursday, April 20, 2006

Piada?

Finalistas do concurso de melhor polícia do mundo: a polícia americana, a inglesa e... a polícia brasileira!
Última prova.
Embrenhados na floresta canadense, os organizadores do concurso soltam um coelho no meio do matagal. A polícia que trouxer o animal em menor tempo será considerada a vencedora.
A polícia americana, representada pela SWAT, aciona todo o seu aparato ultramoderno - helicópteros, carros blindados, sensores e radares. Em 40 segundos eles capturam o coelhinho e o trazem à comissão julgadora.
Os ingleses se valem mais do seu poder intelectual. Com lupas, raciocínio dedutivo, conclusões elementares e muito cachimbo, trazem de volta a presa em apenas 30 segundos.
Aí é a vez da polícia brasileira. Munidos apenas de cacetetes, eles retornam em 10 segundos! Os PMs entregam aos juízes do concurso um porquinho, todo arrebentado, coberto de sangue, que não pára de gritar:
- Tá bom! Tá bom! Eu confesso! Eu sou o coelho! Eu sou o coelho!
Leia, não perca!

Friday, April 07, 2006

Assassinatos de jovens negros

Sexta-feira, 07 de Abril de 2006 . Matéria

Retirado do Site : http://www.cidadania.org.br/conteudo.asp?conteudo_id=5674&secao_id=92

Nasce campanha para combater o assassinato de jovens negros24/3/2006 11:00:00

Fonte: Agência Carta Maior

No Brasil, de 1993 a 2002, o número de homicídios de jovens de 15 a 24 anos aumentou em 88%. Só em 2003, mais de 16 mil brasileiros nessa faixa etária foram assassinados. Além disso, a taxa de homicídios de afrodescendentes é 74% maior do que a média de brancos da mesma idade e a morte por arma de fogo já constitui a principal causa entre a juventude. A maioria das vítimas de assassinato no país são jovens, pobres e negros, principalmente das periferias das grandes cidades. Por causa dessa situação, entidades do movimento negro, em parceria com diversas organizações do movimento sindical, de mulheres e de defesa dos direitos humanos, lançaram a campanha “Não matem os nossos jovens: Eu quero crescer”. Terça-feira (21), Dia Internacional pela Eliminação do Racismo, foi realizado um ato público na Praça da Sé, no centro de São Paulo, para colocar nas ruas as idéias da campanha, que terá duração de dois anos. A proposta é que ela comece em São Paulo e aos poucos seja nacionalizada, já que esse é um problema que atinge praticamente todos os grandes centros urbanos.Em 1995, por conta da ação de grupos de extermínio contra meninos e meninas pobres e em situação de rua, na maioria negros - como a que resultou na chacina da Candelária -, a Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen) organizou uma campanha semelhante, chamada “Não matem nossas crianças”, para denunciar a onda de violência e exigir que o quadro fosse modificado. Mais de uma década depois, a situação não melhorou; só o foco mudou. “Essas crianças cresceram e hoje são jovens, justamente as atuais vítimas do genocídio realizado pelo aparato policial e criminal”, denuncia Sonia Leite, da executiva do Fórum Estadual de Mulheres Negras. Esse assassinato da juventude, completa Sonia, também ocorre por meio do turismo sexual, que de forma lenta aniquila o crescimento dessas jovens.A principal crítica dos organizadores da campanha diz respeito à falta de políticas públicas voltadas à juventude, que poderiam contribuir para minimizar a situação. “A política afirmativa do governo estadual de São Paulo é a Febem [Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor]”, ironiza Gilson Negão, da direção nacional da Central de Movimentos Populares (CMP). Entre as reivindicações para resolver esse problema está a elaboração e implementação de políticas culturais, esportivas, de lazer, trabalho e geração de renda, que apresentem alternativas a essa faixa etária da população, muitas vezes sem nenhuma perspectiva de sobrevivência a não ser o tráfico de drogas.“Ou alguém acha que a Febem vai resolver algum problema da nossa sociedade?”, questiona Negão. Segundo ele, a realidade mostrada pelo documentário “Falcão – Meninos do Tráfico”, exibido pela Rede Globo neste fim de semana, com grande repercussão, já vem sendo denunciada há anos pela sociedade civil brasileira, sem nenhuma resposta efetiva do poder público.A Febem do Estado de São Paulo é apontada como uma das responsáveis por esse massacre da juventude, em especial da afrodescendente e pobre. Desde 2003, 23 jovens morreram, a maioria negros, enquanto estavam sob custódia do Estado nesses estabelecimentos, que deveriam ser educacionais mas cada vez mais se aproximam do modelo prisional. Muitos são torturados e vítimas de variadas formas de maus-tratos. De tão extrema, a situação se encontra na Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos) e pode ser encaminhada à Corte até o meio do ano.“É um Estado que destrói a educação pública e constrói presídios, não investe nada na prevenção. Os efeitos são trágicos, principalmente para a juventude negra e pobre da periferia. Muitos jovens que estão na Febem são vítimas dos agentes do Estado, que deveriam cumprir a lei. A violência oficial também está na omissão na apuração desses crimes”, avalia o advogado Ariel de Castro Alves, coordenador estadual do Movimento Nacional de Direitos Humanos. Serão formados comitês da campanha em todo o país para debater as questões levantadas pela iniciativa, da mesma forma que ocorreu na preparação da Marcha Zumbi + 10 e da Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial, anuncia a coordenadora da comissão nacional contra a discriminação racial da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Maria Isabel da Silva. A idéia é conseguir uma interlocução direta com a periferia, por meio de núcleos de hip hop ou estudantis, para discutir esse problema e garantir que os próprios jovens sejam protagonistas da campanha. “Essa não é uma campanha apenas do movimento negro, mas de toda a sociedade civil. Das entidades sindicais, estudantis, de direitos humanos, movimentos de moradia e feminista, porque esse é um problema do Brasil e não apenas da população negra”, resume a integrante do Fórum Estadual de Mulheres Negras. Trabalhadoras domésticas
Como parte das comemorações do Dia Internacional pela Eliminação do Racismo, trabalhadoras domésticas, representantes de organizações feministas e do movimento negro fizeram uma mobilização para que a Comissão Especial sobre Trabalho e Emprego Doméstico, criada na Câmara dos Deputados em novembro de 2005, começasse a trabalhar de fato.Graças à mobilização, ao diálogo com parlamentares que têm afinidade com a questão e à pressão política sobre outros deputados, elas conseguiram que fosse realizada a primeira reunião da comissão. Isso não havia ocorrido antes por falta de quorum, o que demonstra o total descaso com as trabalhadoras domésticas, que compõem um universo de 6 milhões de pessoas, na imensa maioria mulheres e negras. Entre os requerimentos aprovados na primeira reunião está o convite ao governo federal para debater a Medida Provisória 284, de março 2006, que prevê dedução no Imposto de Renda do INSS recolhido pelo empregador; a realização de audiência pública para discutir as políticas de erradicação do trabalho infantil doméstico no Brasil; o convite para ouvir as reivindicações da Confederação das Trabalhadoras Domésticas do Brasil; a organização de um seminário sobre o tema; e a realização de audiências públicas nos Estados para debater a situação do trabalho e emprego doméstico no país. “É importante que isso ocorra para que saíam propostas e encaminhamentos a partir dos debates nos Estados e regiões, já que existem 46 projetos de lei sobre o tema, e essa categoria enfrenta mais dificuldade de participar dessas discussões do que outras. Em qualquer sindicato existe proteção para isso, mas no caso delas é mais complexo”, avalia Camilla Valadares, do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea).As manifestantes conseguiram que fosse assumido o compromisso por parte dos parlamentares de seguir com as reuniões, mas elas avaliam que será necessária alguma mobilização e pressão política para que isso aconteça. De acordo com o Cfemea, a idéia é que deputados e deputadas federais passem a priorizar em suas agendas o debate urgente sobre trabalho doméstico no Brasil porque o Legislativo tem um papel fundamental no reconhecimento dos direitos ainda não garantidos, como FGTS obrigatório, estabilidade para gestantes e jornada de trabalho de 44 horas.

Fernanda Sucupira

Baixada Relembra Chacina

Artigo retirado do site: http://www.cidadania.org.br/conteudo.asp?conteudo_id=5691

Sexta-feira, 07 de Abril de 2006 . Matéria

Baixada relembra chacina
31/3/2006 12:42:00



Fonte: Viva Favela

Por Renata Siqueira

Rio de Janeiro. Baixada Fluminense. Noite de quinta-feira, 31 de março de 2005. 29 mortos e uma testemunha. Vítimas escolhidas aleatoriamente. Os acusados são PMs. Informações que parecem fazer parte do roteiro de um filme de terror, mas que há um ano estamparam a capa de jornais do Brasil e do mundo. Famílias marcadas para sempre pela chacina nos municípios de Nova Iguaçu e Queimados e que até hoje lutam pelo cumprimento das promessas feitas pela prefeitura de Nova Iguaçu, governo do estado e federal.

Porém, a dor de perder maridos, irmãos e filhos não teve um efeito paralisante. Pelo contrário, logo depois da tragédia, os parentes das vítimas se uniram e criaram a Associação de Familiares e Amigos das Vítimas de Violência (AFAVIV). A iniciativa tomou proporções maiores que a esperada. Outras mães que passaram por situações semelhantes, como os incidentes da ViaShow e da Rio Sampa, também se juntaram ao grupo. O apoio mútuo e objetivos em comum foram alguns dos atrativos para a adesão de novos integrantes:

“No início, a nossa intenção era parar um pouco com a violência, já que são muitos os adolescentes que morrem por causa disso. Além do mais, a dor de perder um parente é muito forte”, conta Cátia Patrícia, 32 anos, presidente da AFAVIV. Ela fala com a autoridade de quem ficou sem o irmão, Márcio Joaquim Martins, 15 anos, e o primo Francisco José da Silva Neto, 34 anos.

Depois de um ano do atentado a associação ainda luta para que a ajuda oferecida pelo poder público seja cumprida: “As pessoas já estão cansadas de esperar o envio de cestas básicas regulares e também a criação de um monumento, que relembre a chacina. Várias mães estão passando necessidade, porque os pais de família foram mortos por funcionários do governo”, cobra Cátia. Ela ressalta ainda, que muitas crianças estão correndo o risco de ficar sem estudar porque as mensalidades escolares estão atrasadas.

Para evitar que situações como estas continuem e também avaliar quais propostas de auxílio saíram do papel, uma série de eventos foi preparada para marcar a passagem de um ano da chacina. As atividades começaram no dia 24 deste mês: “Esta programação tem por objetivo fazer um balanço do que foi prometido pelas autoridades e a partir daí ver quais medidas já foram realmente tomadas”, explica Sebastião Santos, coordenador de comunicação da ONG Viva Rio, participante das reuniões semanais do Fórum Reage Baixada.

No primeiro dia, houve um seminário sobre "Educação e Cultura de Paz", dentro do Fórum Mundial de Educação, em Nova Iguaçu. Nomes importantes participaram do debate como Rodolfo Noronha, integrante do Viva Rio; o ator Antônio Pitanga; Dom Luciano, bispo de Nova Iguaçu; Ismael Lopes, representante da prefeitura de Queimados; e Zé Cláudio, Pró-Reitor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e autor do livro Barões do Extermínio. No dia 26, o ato "Um Grito pela Paz", dividido em duas partes, cívica e religiosa, levou cerca de mil pessoas às ruas do município, apesar do temporal que caiu, após o início do evento. Depois do ato, uma caminhada foi feita até o SESC, onde aconteceu o encerramento do Fórum.

Em Nova Iguaçu, a próxima etapa é a entrega da carta intitulada “Grito pela Paz”(exposta na íntegra no final da reportagem). Ela foi escrita pelo Fórum Reage Baixada e por vários projetos, entidades, órgãos, Ongs e movimentos sociais.O documento será levado a autoridades federais, estaduais e municipais no próximo dia 31, em um debate realizado às 15h, na Casa da Cultura( Rua Getúlio Vargas 51, Centro). Também será apresentada a versão atualizada do dossiê “Impunidade na Baixada”.

Confirmaram presença, o Prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, o Prefeito de Queimados, Rogério do Salão, o Ministro de Direitos Humanos, Paulo de Tarso Vannuchi, e o diretor-executivo do Viva Rio, Rubem César Fernandes. Também foram convidados para o evento, o secretário estadual de segurança, Marcelo Itagiba, o Ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, o comandante da Polícia Militar da Baixada, além dos promotores do caso.

Nesta data, será realizada uma missa às 8h da manhã, na Igreja Sagrada Família(Rua Raimundo Brito de Oliveira, sem número, Posse). Depois haverá uma caminhada em direção a Rua Gama, seguindo até a Escola Municipal Emílio Garrastazu Médice, que receberá o nome de Douglas Brasil, um dos assassinados.

Já em Queimados, será exibido um documentário sobre a chacina, que foi produzido pelo Observatório de Favelas. A apresentação acontece, a partir das 19h, na Praça da Bíblia, no bairro Campo da Banha. Após a projeção, haverá uma missa em memória das vítimas.

Os atos poderiam estar fazendo menção a 30 óbitos, mas uma vida conseguiu se manter ilesa no acontecimento de março do ano passado. Uma testemunha, que está sob proteção, disse que um gol prata chegou, por volta das 20h53, no Lava-Jato Luisinho, em Queimados. Quando ouviu os disparos se escondeu, mas conseguiu ver os assassinos saírem do local. Os tiros não tinham um alvo pré-definido, atingiram trabalhadores, crianças, cidadãos comuns. Mas a ação não parou por aí. No mesmo dia, em um bar na Rua Gama, Nova Iguaçu, outros inocentes foram exterminados. Crimes que tiveram as mesmas características.



A princípio, 11 policiais estariam envolvidos. A juíza Elizabeth Machado Louro, da 4ª Vara Criminal de Nova Iguaçu, incriminou cinco PMs por 29 homicídios qualificados - motivo torpe e recurso que impossibilitou a defesa das vítimas. José Augusto Moreira Felipe, Fabiano Gonçalves Lopes, Carlos Jorge Carvalho, Marcos Siqueira Costa e Júlio César Amaral de Paula ainda serão julgados por tentativa de homicídio e formação de quadrilha. Eles irão a júri popular em abril. Outros dois acusados responderão por formação de quadrilha: Gilmar da Silva Simão e Ivonei de Souza. Quatro deles não serão julgados por falta de provas.

Os nomes dos envolvidos foram mencionados em várias denúncias anônimas, ainda no início da investigação. Segundo informações, depois de cometerem os crimes, eles se reuniram em um bar. Pessoas que estavam no local chegaram a ouvir Júlio César confessar o que tinham feito.

A polícia trabalha com duas linhas de investigação. Uma que policiais integrariam grupos de extermínio da Baixada e por isso escolheram suas vítimas aleatoriamente. O intuito era causar terror, medo e pânico. A outra possibilidade era a insatisfação com a "Operação Navalha na Carne", que investigava PMs envolvidos com o assassinato de dois homens, alguns dias antes da chacina. A corporação queria demonstrar sua insatisfação com a mudança do coronel do 15º Batalhão de Duque de Caxias.



CARTA ABERTA: GRITO PELA PAZ

O Brasil e o Mundo se chocaram com a brutalidade da CHACINA DA BAIXADA, ocorrida nos municípios de Queimados e Nova Iguaçu, na noite de 31 de março de 2005, quando um grupo de extermínio formado por policiais militares da ativa tirou a vida de 29 (vinte e nove) inocentes: crianças, jovens estudantes e trabalhadores, que nada deviam, que nada haviam feito contra ninguém, que apenas estavam, por acaso, nos locais da investida assassina.

Vozes de indignação e de solidariedade surgiram de todos os cantos. Entidades não-governamentais, associações, igrejas e a população repudiaram o ato bárbaro, dando origem a um dossiê intitulado “Impunidade na Baixada Fluminense”, ao Fórum REAGE BAIXADA, que, hoje congrega dezenas de entidades, e à AFAVIV – Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas de Violência na Baixada Fluminense.

As autoridades federais e estaduais agiram, nesse episódio, com rapidez e eficiência, e indiciaram 11 (onze) supostos assassinos. O Ministério Público reuniu provas e apresentou denúncia contra eles. A justiça inocentou, preliminarmente, 4 (quatro) deles e levará os outros 7 (sete) a júri popular, ainda neste semestre.

O governo do Estado e as Prefeituras locais, esparsa e lentamente, tomaram algumas providências “reparadoras” como a concessão de pensões (em fase de implantação), o fornecimento (irregular) de cestas básicas para os familiares das vítimas e o apoio material para alguns eventos de solidariedade, de reivindicação ou de protesto.

No entanto, das reivindicações essenciais para contenção da violência e manutenção da segurança dos cidadãos, apresentadas pela AFAVIV e pelo Reage Baixada, no Dossiê da Impunidade, nenhuma delas foi atendida pelo Poder Público.

Não bastam os paliativos para aliviar o sofrimento dos familiares das vítimas, queremos medidas estruturais e de profundidade que garantam a segurança dos cidadãos e evitem novas vítimas.

Queremos que os governos de todas as esferas apresentem e discutam conosco uma AGENDA SOCIAL, com políticas públicas que possam reduzir as desigualdades que alimentam a violência; que apontem para a superação das condições desumanas de vida a que está submetida grande parte da população da Baixada; que possibilitem a geração de emprego e renda para que todos possam viver dignamente do suor do seu rosto; que garantam a inclusão de todos os jovens no processo educacional e de qualificação profissional e o acesso permanente a atividades culturais e de lazer; e que implante nas escolas, de todos os graus, uma educação mais cidadã, fundamentada nos princípios da solidariedade, da fraternidade e do respeito à vida.

Estamos convencidos de que ‘chacina começa na propina’. A ação criminosa, regular e contínua, de policiais assassinos em nossa região, ceifando centenas de vidas, tem origem na corrupção rotineira, na degradação moral por que passa a Instituição Policial. A corrupção é a mãe da violência. Queremos combate efetivo, diuturno e rigoroso à corrupção, nos quartéis e nos gabinetes que os dirigem e nos parlamentos que os regulam, como também investigação regular e sistemática dos sinais de enriquecimento ilícito.

Queremos ações contundentes das autoridades na punição dos assassinos de farda. Não podemos admitir que agentes da segurança pública, pagos com dinheiro do cidadão, tirem a vida de pessoas a quem deveriam dar proteção. Queremos a expulsão imediata desses assassinos dos quadros da PM e, a curto prazo, em processo sumário, de toda a banda podre da Polícia.

Queremos não os espetáculos cinematográficos para recuperação de armas roubadas do exército, mas medidas efetivas de combate inteligente e contínuo à criminalidade, que libertem nossos filhos, hoje acuados e aterrorizados dentro de casa, diante da ameaça constante da ação assassina tanto dos bandidos quanto de políciais.

Queremos uma reforma profunda na Polícia, com reformulação dos métodos de treinamento, dos cursos de formação e dos procedimentos de seleção de pessoal, a começar pela realização imediata de reciclagem dos policiais da ativa, com prioridade para os Batalhões da Baixada Fluminense, com vistas à civilização e humanização da tropa, para que tenhamos uma polícia verdadeiramente cidadã.

Se a corrupção é a mãe, a impunidade é a madrinha da violência. Queremos punição exemplar para os responsáveis por este e por todo e qualquer crime contra a vida. Conclamamos a todos os cidadãos e cidadãs a comparecerem no Fórum de Nova Iguaçu no dia do julgamento dos policiais assassinos, para exigir que a Justiça seja feita.

Mesmo depois de toda a repercussão da Chacina da Baixada, dezenas de outros inocentes foram mortos em nossa Região por assassinos fardados. Qualquer de nós poderá ser a próxima vítima ou o próximo a chorar seus mortos...

Por tudo isso estamos aqui, hoje, lançando, sob olhares do mundo inteiro, o nosso Grito pela Paz.

Basta de Impunidade, queremos Justiça! Basta de Corrupção, queremos decência no exercício do Poder Público! Basta de violência, queremos PAZ!

FÓRUM REAGE BAIXADA – DIOCESE DE NOVA IGUAÇU / CDH - AFAVIV – SOS QUEIMADOS – VIVA RIO – LPP – Uerj, ABM / S. J. Meriti – FEMAB – B. Roxo - ESCOLA DE GOVERNO / N. Iguaçu - CIRCO BAIXADA / Queimados – TRIÂNGULO ROSA

Assembléia Geral do REAGE BAIXADA - dia 6 de maio, às 9 horas, no Centro de Direitos Humanos – N. Iguaçu (atrás do Cemitério)

Tuesday, March 28, 2006

Só não tem mais artigos diários deste tipo porque não tenho tempo

http://oglobo.globo.com/jornal/Bairros/Tijuca/193730617.asp

Rio, 23 de março de 2006

Versão impressa

Marcas de uma guerra diáriaPor Gian Amato

gian.amato@oglobo.com.br

Os reflexos de confrontos entre a polícia e traficantes do Morro dos Macacos, em Vila Isabel, deixam marcas mais profundas do que as feitas por balas perdidas em paredes e janelas. Quem mora ou trabalha na área apelidada por moradores de “Nova Bagdá“ é obrigado a viver em estado de tensão. Na Rua Visconde de Santa Isabel, paralela ao morro, a Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), a Escola Municipal Jornalista Assis Chateaubriand e o Hospital do Câncer IV, uma unidade do Instituto Nacional do Câncer (Inca), são alguns dos imóveis constantemente atingidos.
O alcance das balas perdidas vai além do ponto crítico. Na Rua Barão de Cotegipe, que fica a menos de 500 metros do morro, também existem sinais evidentes do problema. Numa cobertura, por exemplo, o episódio mais recente descrito por seus moradores ocorreu há aproximadamente um ano em plena luz do dia.
— Levei a minha filha à escola e quando voltei encontrei um buraco na janela e uma bala no chão. Desde aquele dia, sempre que começa um tiroteio, nós nos escondemos no quarto da minha filha, nos fundos, onde não há vista para o morro — conta uma moradora que pediu para não ser identificada.
Na Escola Municipal Jornalista Assis Chateaubriand, uma funcionária compara os confrontos entre policiais e bandidos com as guerras que vê nos noticiários de televisão.
— Os que trabalham aqui precisam estar sempre alertas. Parece que estamos mesmo numa guerra; que aqui é a “Nova Bagdá”. Já recolhi mais de cem balas e o muro dos fundos está todo furado — descreve ela.
Mãe de uma deficiente auditiva, Eva Maria Ferreira dos Santos mora em Maricá e traz a sua filha todos os dias a uma instituição beneficente de assistência social que funciona na Rua Visconde de Santa Isabel. Ela diz que já presenciou vários confrontos.
— Sinto medo de deixar a minha filha estudando aqui, mas não tenho escolha. Quando acontece um conflito na noite anterior, eu nem venho ao Rio no dia seguinte — diz.
Em dezembro do ano passado, uma estudante de nutrição da Uerj cruzou à noite, dentro de um ônibus, a Rua Visconde de Santa Isabel em meio a um tiroteio.
— Eu estava passando pela rua quando começou o tiroteio. Eu me joguei no chão e passei por aquele trecho abaixada no corredor do ônibus. Quando saltei, em outra rua, ainda pude ver as balas cruzando o céu — recorda a universitária Lara de Paula Fonseca.
Nem mesmo a Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) está livre do fogo cruzado. O delegado titular, Luiz Alberto Cunha de Andrade, sabe que está diante de um barril de pólvora devido ao risco de que a carceragem da delegacia, com cerca de cem presos, possa sofrer tentativas de invasão.
— Os traficantes podem tentar invadir a delegacia à noite para resgatar presos. Por isso, nós construímos um paredão de seis metros de altura que separa a delegacia do morro e também cercamos a carceragem com grades por todos os lados — informa o delegado.
De acordo com ele, durante os confrontos os tiros disparados do morro passam sobre a DRE e atingem edifícios do outro lado da rua.
— Quando a Polícia Militar faz uma operação no morro, há troca de tiros. Eles (traficantes) já desceram até a rua, por um dos acessos do morro, ao lado do escola, armados com fuzis para demonstrar poder — diz o delegado.
Segundo o comandante do 6 Batalhão da Polícia Militar (Tijuca), tenente-coronel Álvaro Rodrigues Garcia, a Polícia Militar realizou mais de 50 operações no Morro dos Macacos no período de um ano.
— Toda vez que estamos lá tem confronto. Eu gostaria que isso não acontecesse devido ao sofrimento que causa à população, mas não posso evitar. Mas uma coisa é certa: não existem tiros a esmo por parte dos policiais — ressalta Garcia.

Mais?

Não vai me dizer que não acredita, porque aí também é demais...

CAMELÔ MORTO

http://oglobo.globo.com/jornal/rio/246604909.asp

A família do camelô Edgar Coelho Moraes, de 21 anos, que morreu sábado no Hospital da Posse, em Nova Iguaçu, após ser atingido por dois tiros de fuzil nas costas, disse ontem que ele foi vítima de PMs que matam e praticam extorsão na região de Jardim Palmares. Segundo parentes, em dezembro Edgar fora obrigado a dar R$ 400 para policiais do 20 BPM (Mesquita).

O carioca vai tomar vergonha quando?

Rio, 28 de março de 2006

Versão impressa

http://oglobo.globo.com/jornal/rio/246604916.asp

PMs voltam a ser acusados de morte em Vila Isabel

Cerca de 200 pessoas compareceram ontem ao sepultamento do ajudante de eletricista Ismael Alves Abreu, de 22 anos, no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju. Muito emocionados, parentes e amigos do jovem voltaram a acusar policiais do 6 BPM (Tijuca) de tê-lo executado.
Após o enterro, cerca de cem moradores, com faixas e cartazes pedindo justiça, fizeram uma manifestação no Boulevard Vinte e Oito de Setembro, em Vila Isabel, interrompendo as duas pistas da via por cerca de 15 minutos e causando grande congestionamento. O trânsito foi liberado numa das pistas apenas com a chegada da polícia.
— Meu filho foi morto com tiros à queima-roupa, a menos de 200 metros de casa, mesmo sendo inocente. Ele nunca se envolveu com nada de errado — lamentou o motorista Manuel Abreu, de 43 anos, pai de Ismael.
Ismael morreu na manhã de domingo, após ser atingido por três tiros enquanto voltava de um baile funk para sua casa, no Morro dos Macacos.
O comandante do 6 BPM (Tijuca), tenente-coronel Álvaro Garcia, acompanhou o protesto e disse que os dez policiais envolvidos na operação na favela continuam trabalhando. Segundo ele, as armas dos PMs ainda não foram recolhidas para perícia porque a 20DP (Vila Isabel) não fez o pedido:
— No momento em que o rapaz foi baleado havia um confronto entre os policiais e traficantes do morro. Por isso ainda não é possível afirmar de onde partiram os tiros.

Thursday, March 23, 2006

Sobre a Violência

Um artigo da revista ÉPOCA.

Minha pergunta para vocês: Vocês têm noção da dor causada pela violência?


http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT1141057-1664-1,00.html

Eles querem justiçaFamílias de vítimas da violência lutam para endurecer o Código Penal no Brasil. Será que isso adianta? Martha Mendonça e Nelito Frenandes

» Você acha que mudanças nas leis penais podem resolver o problema da violência nas grandes cidades brasileiras? Por quê?

Aos 14 anos, Gabriela Prado Maia Ribeiro, moradora da Tijuca, na zona norte do Rio de Janeiro, mal começava a sair do universo familiar. Com a curiosidade natural da idade, diz a mãe, freqüentava aulas de surfe, dança do ventre e cavaquinho, sem descuidar dos estudos. Tinha ganho o prêmio de aluna do ano no Colégio PH, um dos melhores da cidade, onde cursava o 1o ano do ensino médio. Moradora de uma cidade insegura, encerrava cartinhas e e-mails aos amigos com 'paz e amor'. Revoltava-se com injustiças cotidianas e defendia os colegas mais tímidos na escola, e costumava arrecadar alimentos para orfanatos e asilos. 'Eram fases que iam e vinham, mas ela gostava mesmo de ser útil', diz a mãe, Cleyde. 'Gabriela era contestadora, mesmo que gentil.' No dia 25 de março de 2003, pela primeira vez Gabriela saiu de casa sozinha, para pegar o metrô e encontrar a mãe. Nem chegou à plataforma de embarque. Foi alvejada no peito por uma bala perdida num assalto dentro da estação.
Os pais de Gabriela, morta no metrô, reuniram 1,2 milhão de assinaturas para mudar a lei
A morte da menina abalou a cidade. Até aquele dia, nunca tinha havido um crime no metrô carioca. Era considerado o transporte mais seguro da cidade. 'Meu consolo é que os últimos momentos de minha filha devem ter sido extremamente felizes. Ela com certeza descia as escadas do metrô alegre, com o coração aos pulos', diz Carlos, o pai. A vida do casal, os dois psicólogos de 48 anos, nunca mais foi a mesma. Não apenas por causa da, nas palavras deles, 'dor incurável'. Desde o crime, Carlos e Cleyde pararam de trabalhar. Apesar de divorciados, os dois ficaram irremediavelmente unidos em torno de um objetivo: recolher as assinaturas necessárias para mexer no Código Penal Brasileiro, endurecendo as regras de julgamento e prisão de criminosos como os que tiraram a vida de Gabriela. Três dos quatro assaltantes eram reincidentes. Um estava foragido e dois em liberdade condicional. 'Impossível olhar a tragédia que nos tirou nossa única filha sem pensar na carga de responsabilidade da lei e do poder público', diz Carlos. 'Esse esforço me ajudou a não enlouquecer', diz Cleyde. Dedicada às assinaturas, ela voltou a morar com a mãe. Carlos vendeu o carro para fazer uma poupança e poder ficar sem trabalhar. 'Mal conseguimos andar pelas ruas do bairro. As pessoas nos abordam a cada 10 metros com apenas um pedido: não parem!', afirma.
A presença constante em eventos públicos e na TV e a solidariedade de famílias de vítimas de todo o país ajudaram Cleyde e Carlos a juntar 1,2 milhão de assinaturas. Com elas, o casal pode criar um projeto de emenda popular à Constituição brasileira. Em 8 de março, os dois vão levar ao Congresso o documento com propostas de mudanças na lei. O projeto ainda vai ser debatido e votado. Mas, se for aprovado como está hoje, vai alterar vários itens do Código Penal. Pelo texto, os réus condenados por crimes hediondos não poderão mais recorrer em liberdade. A obtenção de benefícios como o regime semi-aberto ou o livramento condicional ficará mais difícil. Quem for condenado a mais de 20 anos de prisão não terá automaticamente novo julgamento como acontece hoje.
A primeira lei de iniciativa popular do país foi a que, em 1993, incluiu o homicídio qualificado - praticado por motivo torpe ou fútil ou cometido com crueldade - na Lei dos Crimes Hediondos, aqueles inafiançáveis, cuja pena deve ser cumprida integralmente em regime fechado. O projeto partiu da novelista Glória Perez, após o assassinato da filha Daniela, em 1992. Foi ela também quem estimulou o casal Carlos e Cleyde. Ligou para os dois no dia da missa de sétimo dia de Gabriela. A conversa foi além da solidariedade de quem perde a filha. 'Foi Glória Perez que nos deu a idéia de transformar nossas lágrimas em ação', diz Cleyde. Agora, a iniciativa do casal pode ser apenas a primeira de uma série de alterações nas penas propostas por parentes de vítimas da violência.


AINDA NESTA MATÉRIA


Página 1 de 5
Próxima: Eles querem justiça - continuação>>


Página 1:
Eles querem justiça
Página 2:
Eles querem justiça - continuação
Página 3:
A luta das famílias de vítimas da violência
Página 4:
As mudanças propostas
Página 5:
O que já foi testado

Thursday, January 26, 2006

O Estado perdeu o mando? Ou o Estado foi tomado pelos bandidos?

25/01/2006 - 14h35m

http://oglobo.globo.com/online/rio/plantao/2006/01/25/190064066.asp

Mais um integrante de grupo de extermínio é preso

Extra


RIO - Policiais da 73ª DP(Neves) prenderam, na manhã desta quarta-feira, no Centro de São Gonçalo, o ex-comissário de menores Hindemburgo Correa Pinto, de 52 anos. Segundo a polícia, ele é acusado de executar com oito tiros de pistola, no dia 16 de dezembro em Niterói, o comerciante Antonio Carlos de Souza Macedo.
O crime teria sido encomendado pelo também ex-comissário de menores Jorge Luís Ferreira, de 47, o Jorge Falcon, que foi preso pela polícia na terça-feira.
Os dois estavam com a prisão temporária decretada e segundo o delegado Anestor Magalhães, são suspeitos de integrar um grupo de extermínio que age em três bairros de São Gonçalo.

Friday, January 13, 2006

Quer mais?

Nove policiais do grupamento especial tático-móvel de Niterói, no Rio de Janeiro, estão presos acusados de torturar e ameaçar de morte um morador do município de São Gonçalo.

http://jornalhoje.globo.com/JHoje/0,19125,VJS0-3076-20060113-142961,00.html

O pai do jovem foi à Brasília na manhã desta sexta-feira para pedir ajuda ao governo federal. Ele esteve na Secretaria Especial de Direitos Humanos para se informar se ele e a família têm direito a ingressar no programa de proteção a testemunhas e vítimas ameaçadas.
Na terça-feira, a senadora Heloísa Helena recebeu a denúncia em Brasília e encaminhou um ofício relatando o caso a várias autoridades, inclusive ao secretário dos Direitos Humanos do Rio. Segundo a denúncia, o rapaz jogava bola com outros jovens em São Gonçalo, no dia 7 de janeiro. Policiais teriam chegado ao local para averiguar informações de tráfico de drogas. Depois de uma revista, ele foi levado para a localidade conhecida como Água Mineral e espancado.
Na delegacia, o rapaz contou que foi torturado por policiais que teriam usado porrete e alicate e que depois de ameaçado ele foi solto e teria que conseguir R$ 5 mil para entregar aos PMs três dias depois.
A corregedoria geral da Secretaria de Segurança do RJ, que investiga o caso, determinou a prisão de nove PMs. Sete foram reconhecidos pela vítima. “Nós precisamos de outros testemunhos, mas já tomamos medidas pró-ativas para tirar esses policiais de circulação”, disse Marcelo Itagiba, secretário de Segurança.
A secretaria dos Direitos Humanos ainda investiga se outros seis PMs teriam participado da sessão de tortura.

Nota do Fred

Será que ninguem vê o que é a polícia brasileira?

O Nascimento da Band leu um editorial no Band News que chega perto.

E ninguém vai tomar providência.

Se ninguém toma, a única esperança é você.

Grite aqui!

Como eu faço .

Pode ser que nos escutem. Já são dois. Vamos gritar mais alto. Pode ser que mais alguém nos escute e se junte a nós.

Aí vai começar a ficar bom!

13.01.2006

http://jornalnacional.globo.com/Jornalismo/JN/0,,AA1107848-3586,00.html

PMs são presos na região metropolitana do Rio, suspeitos de tortura

Em busca de proteção, parentes do rapaz torturado estiveram na Secretaria Especial de Direitos Humanos, em Brasília.
“Preservar a minha família para que coisas piores não possam acontecer, não venham a acontecer”, falou um dos parentes.
O jovem de 25 anos disse que foi torturado por policiais militares, há uma semana, em São Gonçalo, região metropolitana do Rio.
Em depoimento à secretaria de Direitos Humanos do estado, ele contou que jogava futebol com amigos em um campo, quando os PMs chegaram. O rapaz afirmou que foi revistado, acusado de ser traficante e levado pelos PMs.
A sessão de espancamento teria durado duas horas. O rapaz contou que levou muitas pauladas, que um tiro foi disparado ao lado da cabeça dele e que teve a orelha apertada com um alicate. Ameaçado de morte, foi solto, mas teria que conseguir R$ 5 mil para entregar aos policiais três dias depois.
Um exame de corpo de delito mostrou que a vítima tinha ferimentos na orelha, no tórax e na coxa direita. Além disso, as investigações revelaram que os PMs deveriam estar patrulhando uma outra área determinada pelo batalhão, mas não estavam lá.
“Nós precisamos de outros testemunhos, mas nós já tomamos as medidas pro - ativas tirando esses policiais de circulação”, disse Marcelo Itagiba, secretário de Segurança – RJ.
Nove policias estão presos em um quartel, em Niterói - sete já foram reconhecidos pela vítima. Outros cinco são investigados. Com medo, o jovem e os parentes estão escondidos.
“A família está sob nossa proteção, estou agilizando os procedimentos para colocá-la fora do estado o mais rápido possível, talvez até mesmo amanhã”, informou o Coronel Jorge da Silva, secretário de Direitos Humanos – RJ.

Monday, January 09, 2006

Os cariocas acham que está tudo bem

09/01/2006 - 10h52m

http://oglobo.globo.com/online/rio/plantao/2006/01/09/189883244.asp

Comércio é fechado em Barros FilhoO Globo

RIO - Vários comerciantes fecharam as suas portas nesta segunda-feira em Barros Filho, subúrbio do Rio. O fechamento acontece no comércio da Rua João Paulo e ruas próximas. Segundo informações recebidas pelo 9º BPM (Rocha Miranda), a ordem teria partido do tráfico de drogas devido à morte de um bandido na região.

Comentários

Quem manda na cidade?

Os bandidos e traficantes.

Ah tá!

Viva o carioca!

Wednesday, December 28, 2005

Quando você vai começar a ver a realidade?

27/12/2005 - 10h58m

http://oglobo.globo.com/online/rio/plantao/2005/12/27/189755124.asp

Parentes farão manifestação em enterro de jovens mortos em Acari O Globo

RIO - Os dois rapazes mortos por policiais do 9º BPM (Rocha Miranda) na segunda-feira, em Acari, serão enterrados nesta terça, às 16h, no Cemitério de Irajá. Os corpos serão velados juntos na capela Nossa Senhora da Apresentação. Parentes dos mortos dizem que farão uma manifestação durante um enterro.

Tuesday, December 27, 2005

O carioca é um avestruz?

22.12.2005

Policias são presos no Rio

http://jornalnacional.globo.com/Jornalismo/JN/0,,AA1095436-3586-394364,00.html

Dois policiais militares foram presos, hoje, no Rio depois de soltarem um traficante detido por policiais civis. A operação no subúrbio da cidade era para fazer a reconstituição do desaparecimento de jovens numa favela, há nove dias.
A Polícia Civil ocupou as favelas para a reconstituição do desaparecimento dos oito jovens. Segundo os investigadores, os rapazes de Vigário Geral foram assassinados por traficantes de Parada de Lucas. Mas a reconstituição não chegou ao fim.
Hoje a Polícia Civil informou que prendeu um bandido de Parada de Lucas que teria esquartejado os jovens. O homem foi trazido para um posto de policiamento comunitário da favela. Mas dois policias militares soltaram o criminoso.
“Ele é o açougueiro da quadrilha de Parada de Lucas. Foi ele que esquartejou e desovou os corpos. Isso é um absurdo, é um ultraje e nós vamos tomar as medidas legais cabíveis”, disse Marcos Neves, delegado.
O sargento e o soldado foram presos imediatamente.
“Eu determinei que fossem adotadas as medidas legais, cabíveis com autuação em flagrante dos responsáveis”, falou Marcelo Itagiba, secretário de Segurança Pública –RJ.
Na semana passada uma outra equipe que trabalhava no posto já tinha sido afastada. Segundo testemunhas, os PMs estariam envolvidos no desaparecimento dos oito jovens e teriam recebido R$ 50 mil.
No caso de hoje, a corregedoria apura a informação de que os PMs teriam ganhado uma propina de R$ 10 mil para liberar o bandido.
“Esse caso é uma falha monumental”, afirmou um policial.

Sunday, December 18, 2005

Cenas de um homicídio


http://jornalnacional.globo.com/Jornalismo/JN/0,,AA1084125-3586,00.html


03.12.2005

Imagens exclusivas mostram o assassinato de dois homens, no Rio de Janeiro. A ação foi flagrada por câmeras de um shopping. Os acusados são dois policiais federais e um deles participou hoje da reconstituição do crime.
A rua foi interditada por peritos da Polícia Federal. Houve reforço na segurança. O escrivão da Delegacia de Repressão a Entorpecentes Fábio Kair, que está preso, mostrou aos investigadores como teria sido o assassinato de dois homens em março deste ano. Ele afirmou que o autor dos disparos foi o agente Marcos Paulo da Rocha, que está em um presídio e não participou da reconstituição.
Segundo a polícia, os dois agentes foram contratados por comerciantes para recuperar cheques roubados que estariam com as vítimas.
O crime aconteceu na entrada de um shopping na Zona Oeste do Rio. Os agentes Marcos Paulo da Rocha e Fabio Kair usaram um carro da Polícia Federal para interceptar o veículo onde as vítimas estavam.
Uma câmera de segurança a cem metros de distância gravou imagens do crime, que foram periciadas pela Polícia Federal. Os agentes chegaram em um carro branco e caminharam em direção aos dois homens que estariam com os cheques roubados. Em seguida, os policiais aparecem abordando as duas vítimas dentro do carro. A conversa durou poucos segundos. O agente da direita, que a polícia diz ser Marcos Paulo, puxou sua arma e disparou contra os dois. Atingido, o homem que estava no banco do carona tenta fugir, mas caiu poucos metros adiante. Os dois policiais fugiram.
Marcos Paulo e Fábio Kair estão entre os sete agentes acusados de roubar mais de R$ 2 milhões do cofre da sede da Polícia Federal. O dinheiro tinha sido apreendido na Operação Caravelas, que desarticulou uma quadrilha que exportava cocaína escondida em pedaços de carne.
O delegado responsável pelas investigações, Alessandro Moretti, falou sobre o envolvimento de colegas em crimes.
"É o pior tipo de bandido que existe. É o bandido que está do seu lado, é o bandido que pode te prejudicar. E é por isso que a Polícia Federal não aceita e toma medidas totalmente eficientes e rápidas pra tirar do nosso quadro esse tipo de pessoa, esse tipo de bandido", disse.

Morte de meninos será investigada /Reconstituição da operação


http://jornalnacional.globo.com/Jornalismo/JN/0,,AA1085017-3586,00.html

http://jornalnacional.globo.com/Jornalismo/JN/0,,AA1085751-3586,00.html

05.12.2005



Trabalhador inocente. No cartaz improvisado, a mensagem da família de um jovem de 24 anos que, segundo os parentes, voltava para casa na hora em que policiais militares agiam no Morro do Estado, em Niterói, região metropolitana do Rio.
A operação, no sábado à noite, deixou quatro mortos. Três eram menores: tinham 16, 15 e 11 anos de idade. Outro adolescente ficou ferido e está no hospital.
O menor de todos era Wellington. Segundo uma testemunha, ele não resistiu aos três tiros que levou: dois nas pernas e o último na cabeça. A testemunha é um outro garoto de 11 anos. Ele conta que conseguiu se esconder e escapou com vida.
“Os policiais estavam pensando que eles eram bandidos. Só que eles eram apenas meus amigos. Aí o policial falou: ‘sai pra fora’. Aí falou: ‘não, por causa da bala perdida me acertar’. Aí o policial falou: ‘Ah é, né? Virou as costas pra mim, agora você não vai mais virar as costas mais pra ninguém.’”, disse o garoto.
Pedindo justiça, parentes dos mortos e moradores do Morro do Estado, fizeram um protesto pelas ruas do centro de Niterói, nesta segunda-feira à tarde.
Na frente do Fórum, rezaram.
Policiais do batalhão de choque acompanharam a manifestação. Na versão da PM, o que houve na favela foi uma troca de tiros. Drogas e armas, inclusive uma submetralhadora, estariam com o grupo.
Segundo informações da Polícia Militar, uma testemunha viu uma pessoa com uma pistola e um dos mortos tem passagem pela polícia.
“Nós quando incursionamos uma favela temos que ter as devidas cautelas, até porque nós estamos perdendo homens também. Se houve alguma precipitação, algum excesso, obviamente eles não ficaram na rua“, afirmou Hudson de Aguiar, comandante geral da PM.
Dois adolescentes foram sepultados hoje. A mãe de um dos menores não quer realizar o enterro antes que sejam feitos mais exames no corpo.
“Meu filho estudava, tinha família e eu vou mostrar que meu filho não era bandido da favela, existe muita criança que quer ser feliz”, disse ela.
A Secretaria de Segurança Pública do Rio determinou que o caso seja investigado pelo inspetor-geral de Polícia.
“Vamos investigar se tem caracterizações de feridas produzidas por projétil que possam mostrar indícios de extermínio”, informou João Carlos Ferreira, inspetor geral de polícia.


06.12.2005

Reconstituição da operação

De manhã, 12 policiais militares prestaram depoimento. Todos negaram as acusações de que teriam executado três menores e um jovem de 24 anos durante uma operação no último sábado no morro do estado, em Niterói.
Quatro deles foram convocados para participar de uma reconstituição na favela. Peritos criminalistas e o delegado responsável pelas investigações acompanharam as explicações de um sargento e três soldados.
Durante a reconstituição, os quatro policiais reafirmaram que reagiram ao ataque de bandidos. E que atiraram em legítima defesa. Mas para o inspetor geral de polícia do Rio há dúvidas nas versões apresentadas pelos PMs.
“Verificamos algumas incongruências, algumas contradições nos depoimentos, nas demonstrações dos policiais que efetivamente participaram, de sorte que ainda merece um aprofundamento para esclarecer esses pontos de incongruências que ficaram”, disse João Carlos Ferreira, inspetor geral da polícia.
Hoje, a polícia apresentou cartas que teriam sido apreendidas com traficantes de uma outra favela. Nelas, os bandidos afirmam que as vítimas tinham envolvimento com o tráfico.
De acordo com os investigadores, uma testemunha disse que três dos quatro mortos eram traficantes. Parentes da testemunha negam que ela tenha apresentado essa versão.
“Ele falou: "Conheço eles, que eles são meus colegas, brinco com eles na rua, a gente joga bola", só isso que ele falou, não falou nada. Perguntaram pelos outros meninos, ele falou que não conhecia, não conhece ninguém”, afirmou um parente.
A polícia, no entanto, confirma o conteúdo do depoimento.
“Ele afirma que chegou ali, viu três, um deles desarmados e mais dois armados. Eu vi um documento assinado por ele, do próprio punho, na presença do delegado titular da delegacia de homicídios”, afirmou o inspetor geral de polícia.
A Secretaria de Segurança do Rio determinou, na noite desta terça-feira, pouco a prisão administrativa dos 12 policiais militares que participaram da operação.

Friday, December 16, 2005

Polícia sequestra

15/12/2005 - 12h44mPMs prestam depoimento sobre desaparecimento de jovens em Vigário GeralAna Cláudia Costa - O Globo

RIO - O segundo o subcomandante do 16º BPM (Olaria), tenente coronel Pereira Neto, 11 policiais militares estão prestando depoimento na 1ª Delegacia de Polícia Judiciária Mililtar. Eles vão esclarecer ao oficial responsável pelo inquérito e ao corregedor o que fizeram na madrugada em que oito jovens foram seqüestrados na Favela de Vigário Geral.

Ainda de acordo com o subcomandante, quatro policiais faziam parte do efeitvo do PPC de Parada de Lucas, seis praças que faziam parte do carro blindado do 16º BPM e o oficial que os comandava.

http://oglobo.globo.com/online/plantao/2005/12/15/189654739.asp


15/12/2005 - 12h40mLins e Hudson de Aguiar coordenam busca a jovens desaparecidos em favelaAna Cláudia Costa - O Globo

RIO -Por determinação do secretário de Segurança Pública, Marcelo Itagiba, o chefe de Polícia Civil, Álvaro Lins, e o comandante-geral da PM, coronel Hudson de Aguiar Miranda, vão coordenar o trabalho de impacto para tentar encontrar oito jovens desaparecidos na favela de Vigário Geral desde a madrugada de terça-feira. A informação foi dada no começo da tarde desta quinta-feira pelo subsecretário de Segurança, delegado Paulo Souto. Ainda de acordo com o delegado, cerca de 30 policiais miltares estão fazendo buscas na favela Parada de Lucas desde as primeiras horas do dia.

http://oglobo.globo.com/online/plantao/2005/12/15/189654741.asp

Saturday, November 26, 2005

Violência vista por uma ouvidora

JULITA LEMGRUBER

Polícia sem controle

http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT678129-1666,00.html

Ex-ouvidora do Rio de Janeiro, socióloga diz que a polícia é violenta, corrupta e as mortes "em confronto" são uma farsa

PALOMA COTES


Na semana passada foi registrado mais um caso de assassinato de inocente envolvendo seis policiais militares paulistas. Desta vez, o dentista Flávio Ferreira Sant'Ana, de 28 anos, caiu morto com dois tiros disparados pelos oficiais. Foi confundido com um ladrão, e os agentes seguiram o famoso procedimento de 'atirar primeiro, perguntar depois'. Caído no chão, Flávio não foi reconhecido pela vítima do roubo. Os policiais militares ainda tentaram incriminar o dentista, colocando em seu bolso a carteira da vítima - que foi ameaçada para não revelar a execução. Presos, os PMs alegaram que Flávio estava armado e reagiu, embora a perícia tenha derrubado esse argumento. A PM de São Paulo coleciona acusações de uso excessivo e indiscriminado da força contra negros e pobres. Já a polícia do Rio de Janeiro ganhou notoriedade pela corrupção e também pela violência. Em 2003, bateu recorde: matou uma pessoa a cada oito horas. É o que revela estudo feito pelos sociólogos Julita Lemgruber, Leonarda Musumeci e Ignacio Cano, que resultou no livro Quem Vigia os Vigias?, lançado no fim do ano passado pela Editora Record. Por dois anos eles levantaram dados em cinco Ouvidorias de Polícia, órgãos responsáveis pelo controle externo do trabalho dos homens da lei. Concluíram que a corrupção, o extermínio e o abuso de poder estão dentro das corporações brasileiras. 'O caso de Flávio é exemplar. Revela o viés racista que está embutido no trabalho da polícia', afirma Julita. Ex-ouvidora da polícia do Rio de Janeiro, ela concedeu a seguinte entrevista a ÉPOCA.



JULITA LEMGRUBER

Daryan Dornelles/ÉPOCA

Trajetória
Mestre em sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Estado do Rio de Janeiro (Iuperj). De março de 1999 a março de 2000, foi ouvidora das polícias no Estado do Rio de Janeiro. Depois de pedir demissão, assumiu a direção do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes

Livros
Cemitério dos Vivos (1978) e Quem Vigia os Vigias? Um Estudo Sobre o Controle Externo da Polícia no Brasil (2003)


No ano passado, a polícia fluminense matou 1.195 pessoas. Em Portugal, que tem a mesma população, foram duas pessoas. No Rio, de cada dez pessoas mortas, duas são assassinadas pela polícia



ÉPOCA - Quem são as maiores vítimas da violência policial?
Julita Lemgruber - A maior vítima dessa violência policial é o pobre, preto, favelado (Flávio era negro, nasceu na periferia de São ä Paulo e fez faculdade com auxílio de bolsa de estudo em uma universidade particular de Guarulhos). São essas pessoas que estão morrendo. A polícia diz que a maioria das pessoas morre em confrontos. Sabemos, e diversas pesquisas já indicaram isso, que, na maior parte dessas mortes, as pessoas levaram tiros pelas costas ou na cabeça. Um estudo realizado pela Ouvidoria de São Paulo mostrou que, nos civis mortos, o número médio de perfurações à bala era de 3,2. Em 36% dos corpos havia pelo menos um disparo na cabeça. Em outros 51%, havia tiros nas costas. Fica evidente que não são mortes em confronto, são execuções. Nas áreas de classe média ou mais ricas, a polícia se comporta melhor.

ÉPOCA - O dentista Flávio Sant'Ana foi assassinado por policiais militares ao ser confundido com um bandido. A família acredita que ele foi morto por ser negro. Em sua opinião, o que aconteceu?
Julita - Esse é mais um caso exemplar que revela o viés racial embutido no trabalho da polícia. O policiamento ostensivo é marcado pelo preconceito. Se Flávio fosse branco, com certeza não teria morrido. Essa é uma questão preocupante.

ÉPOCA - Argumenta-se que a polícia mata muito porque os soldados também vivem expostos ao perigo. Isso é justificativa?
Julita - Em 2002, morreram, só no Rio de Janeiro, 170 policiais. É um número alto. Agora, é evidente que uma polícia que trabalha com o confronto, nem que seja entre aspas, vai ter morte dos dois lados. Isso é resultado de uma estratégia de combate ao crime. Mas vale lembrar que muitos desses policiais morrem nos horários de folga, na realização de bicos ou trabalhando para as organizações criminosas.



Fotos: Daryan Dornelles/ÉPOCA

No ano passado, a polícia fluminense matou 1.195 pessoas. Em Portugal, que tem a mesma população, foram duas pessoas. No Rio, de cada dez pessoas mortas, duas são assassinadas pela polícia.

ÉPOCA - O que há de pior nas polícias brasileiras?
Julita - O grau de corrupção e violência a que chegou a polícia neste país é muito preocupante. Aliás, essas são pragas enraizadas na polícia brasileira. Para ter uma idéia, no ano passado a polícia fluminense matou 1.195 pessoas. Em Portugal, país que tem praticamente as mesmas proporções e população do Estado do Rio, e com um passado problemático e violento por conta da ditadura, houve duas mortes provocadas por policiais. No Rio, de cada dez pessoas mortas, duas são assassinadas pela polícia. Isso é muito grave. Dizem que as origens da violência policial no Brasil estão na ditadura. Mas o que mostramos no livro é que isso é muito mais antigo. Vem dos tempos do Brasil Colônia. Nunca, aqui, a polícia defendeu a cidadania. Ela sempre defendeu uma elite e esteve a serviço do poder. Uma das maneiras mais eficazes de mudar isso é investir em órgãos de controle da polícia, como as Ouvidorias.

ÉPOCA - Como as Ouvidorias poderiam controlar a polícia?
Julita - As primeiras estratégias de controle externo da polícia, semelhantes às Ouvidorias, surgiram nos Estados Unidos nos anos 70 e em alguns países da Europa nos anos 80. Elas surgiram da necessidade não só de controlar o comportamento ilegal e irregular de policiais, mas também, e principalmente, da necessidade de recuperar a confiança da população na instituição. Uma Ouvidoria funcionando bem, respondendo às necessidades da população, vai contribuir para que a polícia recupere o respeito. Isso, em maior escala, é sinônimo de mais segurança pública, de pessoas vivendo com mais tranqüilidade e melhor. Por outro lado, as Ouvidorias também nasceram por conta de casos emblemáticos de violência policial nos EUA, em vários Estados.

ÉPOCA - Como estão as Ouvidorias no Brasil?
Julita - No Brasil, temos graus muito altos de violência e corrupção e as pessoas não podiam ir à polícia se queixar da própria polícia. A primeira Ouvidoria a ser criada no Brasil foi a de São Paulo, em 1995. Houve um momento em que se admitia que a violência policial era muito significativa e que era preciso fazer algo. Era preciso dar um espaço para a população, principalmente para os pobres, poder recorrer a algum órgão e se queixar do comportamento violento do policial. Acredito que as Ouvidorias surgiram em função da necessidade de neutralizar a violência oficial.

ÉPOCA - Quais são as maiores reclamações que chegam às Ouvidorias de Polícia?
Julita - Durante o levantamento, foi possível constatar que as denúncias se concentram em três itens: violência, corrupção e abuso de autoridade. No caso da PM do Rio de Janeiro, a corrupção aparece em primeiro lugar, representando quase 30% das denúncias. Em São Paulo, os casos de violência são numerosos e somam mais de um terço do total das denúncias. Em Minas Gerais, as reclamações se concentram mais na área do abuso de autoridade e correspondem a 59% das denúncias. O PM mineiro não utiliza a força física, mas desrespeita o cidadão.

ÉPOCA - A população brasileira acredita na polícia?
Julita - Não. Pesquisas feitas pelo Datafolha mostraram que, no Brasil, 59% das pessoas disseram ter mais medo que confiança na polícia. Nos Estados Unidos, essa estatística é muito diferente. Lá, 59% dos americanos confiam muito ou bastante na polícia - mesmo considerando que eles não têm os policiais mais civilizados do mundo. Outros levantamentos brasileiros mostram que a subnotificação em casos de roubo é de mais de 80%. Isso porque roubo é um crime grave, com uso de violência. Esse resultado é chocante e fruto de uma população que não confia na polícia.

ÉPOCA - Por que a população não confia na polícia?
Julita - Não confia porque acha que a polícia é incompetente, corrupta, violenta e não vai investigar mesmo. Também porque tem medo de ir à delegacia, para começo de conversa. Fizemos, durante a pesquisa, grupos focais com pessoas pobres e de classe média. Os mais pobres diziam que preferiam, mil vezes, topar com um bandido que com um policial na rua. Os de classe média afirmaram que a última pessoa que eles chamariam em uma situação de risco seria o policial.

ÉPOCA - Por que a população não recorre com maior freqüência às Ouvidorias?
Julita - As Ouvidorias têm feito mal o trabalho de divulgação de suas atribuições. Elas são muito reativas. Ficam lá, com o telefone à disposição do público, esperando que ele toque e que de lá venham as denúncias. Não é possível ficar só esperando. Recomendamos no levantamento que elas sejam mais proativas. As Ouvidorias precisam entender por que as polícias funcionam como funcionam, observar comportamentos, entender a polícia de dentro para fora. Precisam monitorar o conjunto da atividade policial e deixar de se preocupar somente com casos individuais. Por outro lado, as Ouvidorias (são nove em todo o país) são muito mal equipadas do ponto de vista material e de pessoal.




Em cinco anos, foram registradas 524 acusações de tortura. Apenas 15 acusados foram julgados e nenhum deles está na cadeia. Isso significa que quem vigia os vigias, vigia mal.

ÉPOCA - O trabalho das Ouvidorias e de quem investiga a polícia tem resultados efetivos? Qual é o tamanho da impunidade policial?
Julita - Nosso levantamento indica que 85% e 93% das queixas não resultam em nenhum tipo de punição aos policiais militares e civis, respectivamente. Tanto o Ministério Público e as Corregedorias, que são órgãos de controle internos, quanto as Ouvidorias fazem um trabalho precário. O Conselho Nacional de Procuradores da Justiça registrou, em cinco anos, 524 queixas de tortura. Os promotores transformaram os processos em inquéritos por lesão corporal. De todos esses acusados, apenas 15 foram julgados e nenhum está na cadeia ainda. Então, isso significa que quem vigia os vigias, vigia mal.



ÉPOCA - Por que tantos policiais acusados ficam impunes?
Julita - Embora a legislação diga que os ouvidores são autônomos e independentes, a realidade é outra. Isso, aliás, está longe de acontecer. A maior parte dessas Ouvidorias está funcionando dentro dos prédios das Secretarias de Segurança Pública e com ouvidores se reportando aos secretários das pastas. Isso não pode ser assim. As Ouvidorias não fazem apurações paralelas, não têm poder de investigação. Elas se tornaram meras repassadoras de denúncias às Corregedorias, que, corporativas, não têm interesse em punir. A sensação que se tem é de que, aqui no Brasil, muitos governantes mantêm Ouvidorias funcionando somente para passar a imagem de que estão preocupados em defender os direitos da população diante de uma polícia criminosa. Mas, o que se percebe, no fundo, é que não há muita vontade de tocar nesse problema.

ÉPOCA - O cidadão que oferece propina quando recebe uma multa no trânsito pode se queixar de corrupção na polícia?
Julita - Não vamos ter ilusões e achar que aí está o grande problema. Sempre dizem que existe uma parcela de culpa da sociedade, porque as pessoas reclamam da corrupção, mas compram o policial. A corrupção não vai acabar se o garoto deixar de comprar o policial porque estava sem habilitação. Esse é um problema muito maior. Precisamos cuidar do comportamento da sociedade, mas o policial-bandido está, na verdade, ligado ao crime organizado.